segunda-feira, 3 de setembro de 2012

Construção 'encolhe' no 2º trimestre, mas setor prevê recuperação

Ritmo menor do programa 'Minha Casa, Minha Vida' prejudicou resultados.
Para Cbic e Abramat, desempenho ficará abaixo dos 3,6% de 2011.

Darlan AlvarengaDo G1, em São Paulo

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construção civil gráfico pib (Foto: Editoria de Arte/G1)
A diminuição do volume de contratações de novas obras e das vendas de imóveis e materiais de construção derrubou o desempenho da indústria da construção civil no segundo trimestre. Segundo os dados do Produto Interno Bruto (PIB) do período, divulgados na sexta-feira pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o país cresceu 0,4% no segundo trimestre, ao passo que a indústria da construção, que historicamente sempre tem puxado o resultado para cima, registrou dessa vez uma queda de 0,7%
As entidades que representam o setor afirmam que o resultado negativo já era esperado. "Veio pior do que imaginávamos, mas não teve nada de atípico porque já esperávamos uma performance pior, uma vez que não se tem contratado grandes coisas nos últimos meses", afirma Paulo Safady, presidente da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC).
Mas, embora já admita que o resultado de 2012 ficará abaixo do que o registrado no ano passado, o setor acredita numa recuperação neste segundo semestre, o que deverá garantir mais uma vez um crescimento maior que do o PIB do país. "Vamos fechar o ano com crescimento em torno de 3% e 3,5%, mas acima do PIB do país", projeta Safady.
PIB trimestral (Foto: Editoria de arte/G1)
Em 2011, o setor fechou o ano com crescimento de 3,6%, ao passo que a economia brasileira como um todo avançou 2,7%. No primeiro semestre deste ano, o crescimento acumulado do setor é de 2,4%, apesar do recuo nos últimos três meses.
Nível de emprego no setor segue em alta
Para a coordenadora de projetos da construção da FGV, Ana Maria, apesar do recuo o setor ainda permanece como um dos mais dinâmicos da economia.
"Houve de fato uma desaceleração – que estamos atribuindo a uma diminuição do início de novas obras e das vendas, e também a um menor ritmo nas contratações no 'programa Minha Casa, Minha Vida' –, mas o PIB da construção não está negativo. Um setor que está com crescimento no emprego na ordem de 7% não pode estar queda", afirma.
Levantamento da Fundação Getúlio Vargas (FGV), feito em parceria com Sindicato da Indústria da Construção Civil do Estado de São Paulo (Sinduscon-SP), mostra que o nível de emprego na construção civil brasileira cresceu 6,98% no acumulado até julho, o equivalente a 221,5 mil contratações. O resultado, no entanto, indicou uma desaceleração se comparado ao intervalo de janeiro a julho de 2011, quando a área contratou 228,2 mil trabalhadores. A sondagem sobre o desempenho do setor em agosto será divulgada na próxima quarta-feira (5).

Ana Maria explica que, pela metodologia do IBGE, a medição do PIB da construção civil é feita basicamente em cima dos dados da atividade da indústria de materiais de construção, o que ajuda a entender melhor o resultado negativo no segundo trimestre.

"O PIB da construção civil deverá crescer menos que no ano passado, mas será, tranquilamente, mais uma vez superior ao PIB do país, que não deverá chegar a 2%", avalia.

Vendas de materiais desaceleram
As vendas de materiais de construção ficaram praticamente estagnadas nos últimos meses. No acumulado de janeiro a julho, as vendas do setor aumentaram 2,2%, ante avanço de 2,9% registrado em 2011.

"As vendas da indústria nos últimos meses ficaram muito abaixo do previsto. Começamos o ano com previsão de crescimento de 4,5% de previsão. Em abril, baixamos para 3,4%, mas, em agosto, já deu uma boa melhorada e estamos mantendo os 3,4%", diz Walter Cover, presidente da Associação Brasileira da Indústria de Materiais de Construção (Abramat). A entidade projeta que o PIB do país ficará em torno de 2%.
Segundo a Abramat, a maior queda nas vendas no 1º semestre foi sentida no varejo, que representa 50% das vendas do setor, e no mercado de infraestrutura, que representa uma fatia de 25%, por conta da desaceleração nas contratações de novas obras.

"As vendas para o mercado imobiliário continuaram aquecidas por conta de lançamentos que foram feitos em 2010 e 2011 e que agora entraram na fase de acabamento", afirma Cover.

Minha Casa, Minha Vida
A professora da FGV destaca, entretanto, que houve, de fato, uma desaceleração no ritmo de contratações de obras públicas e nas construções de novos empreendimentos imobiliários.

"As contratações nessa segunda fase do Minha Casa, Minha Vida ficaram bem aquém das expectativas. Mas a revisão do valor dos imóveis para financiamentos pode ser agora um incentivo para que se retomem as contratações", afirma.

Portaria publicada no dia 29 pelo Ministério das Cidades reajustou os valores máximos de aquisição dos imóveis do programa Minha Casa, Minha Vida. Na capital e nas regiões metropolitanas de São Paulo, Rio e Brasília, o valor subiu de R$ 65 mil para R$ 76 mil para os enquadrados no faixa 1, que ganham até R$ 1.600.

Apesar da desaceleração no primeiro semestre, os representantes do setor se dizem otimistas com o desemprenho dos próximos meses.

"Não tenho dúvida de que os resultados do terceiro e quarto trimestre serão melhores, uma vez que todas as medidas que vínhamos solicitando já foram tomadas", diz o presidente da CBIC, citando a revisão dos valores de aquisição dos imóveis do Minha Casa, Minha Vida, o lançamento do programa de concessões de rodovias e ferrovias e os novos planos para redução do custo da energia elétrica e para portos e aeroportos, prometidos para as próximas semanas.

"Todas estas medidas irão certamente recolocar as empresas do setor em atividades e ajudarão a dar continuidade nas contratações e nos investimentos", diz Safady, lembrando que a indústria da construção civil responde por 43% da formação bruta de capital no país.

Para o presidente da Abramat, a prorrogação do Imposto de Produtos Industrializados (IPI) para materiais de construção será outro fator que ajudará a estimular novos investimentos e vendas nos próximos meses. "As intenções de investimento na indústria da construção certamente voltarão a crescer, e quem fazia planos de iniciar uma obra irá entrar com muito mais otimismo agora, sabendo que os preços não vão subir até o final de 2013", avalia.

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