segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

Financiar casa pede projeção no futuro

Folha de São Paulo, André Palhano, 28/fev


Consumidor deve projetar evolução de renda, gastos e preço dos imóveis durante o prazo de financiamento

Prestações com índice de correção alto podem trazer surpresas ao mutuário, que deve optar por taxas baixas

É uma pergunta que 9 milhões de brasileiros que desejam comprar um imóvel nos próximos 10 meses, segundo pesquisa do Instituto Data Popular, devem estar se fazendo neste momento: afinal, vale ou não vale a pena utilizar crédito imobiliário?

Quais são as vantagens e desvantagens associadas?

Segundo especialistas ouvidos pela Folha, a resposta mais honesta é: depende.

Assim como qualquer outro produto financeiro, linhas de crédito imobiliário têm prós e contras na comparação com outras opções para levantar dinheiro.

O que determina o que é melhor ou pior são as necessidades e capacidade de pagamento de cada pessoa.

A empresária Sandra Sasaki, por exemplo, conhece os dois lados dessa moeda. Num momento de aperto, quase perdeu um apartamento por conta das altas prestações atreladas ao CUB (Custo Unitário Básico), índice de inflação da construção, que disparara na época.

Passado o susto, vendeu o apartamento não quitado e financiou outro imóvel, com parcelas fixas. "Fizemos a coisa certa. Se estivesse usando essas parcelas para pagar um aluguel, hoje não teria meu apartamento."

Foi o que fez o comerciante José Marcelo Cunha da Silva, 38, que conseguiu financiamento na BM Sua Casa, financeira especializada em crédito imobiliário, que libera carta de crédito, na hora, pela internet. Feitas as simulações, ele pagará R$ 900 de prestação, valor próximo do de seu aluguel.

JUROS E PRAZOS

Juro baixo e prazo longo são os principais atrativos para quem financia imóvel.

"Para a pessoa física, as taxas de juros do crédito imobiliário são imbatíveis, com prazos de até 30 anos", afirma Luiz França, diretor do Itaú e presidente da Abecip (associação das empresas de crédito imobiliário).

A explicação é que a fonte de recursos -poupança e FGTS- é barata para os bancos. O apetite das instituições financeiras aumentou nos últimos três anos com a perspectiva de queda dos juros e com a melhora nas garantias devido à alienação das casas.

Por outro lado, o mutuário fica incomodado ao perceber que financiando acabará pagando o dobro ou o triplo do valor do imóvel à vista. Com juros anuais de 12%, a dívida duplica após seis anos.

Entra aqui a necessidade de calcular perdas e ganhos na ponta do lápis. Quanto a pessoa consegue pagar de entrada em um financiamento? As parcelas cabem tranquilamente no bolso?

Se fosse aplicar o dinheiro para comprar à vista, qual seria o rendimento dessa aplicação? Quanto paga de aluguel hoje e daqui cinco anos?

Acrescente-se a essas indagações a explosão dos preços dos imóveis nos últimos anos. Em São Paulo, o metro quadrado útil dos lançamentos subiu 177% desde 2000.

Embora os especialistas afirmem que a tendência é de desaceleração, esperar uma queda nos preços pode resultar em frustração.

É o que ocorreu com a produtora cultural Vivian Schaeffer, que desistiu de comprar uma cobertura por um ótimo preço, aguardando a possibilidade de adquiri-la à vista no futuro. "Perdi uma grande oportunidade. Hoje esse imóvel vale quatro vezes mais", lamenta a produtora.

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