O Globo, 22/mai
Para "The Economist", endividamento é baixo e valorização não passa de correção
A alta do mercado imobiliário brasileiro atravessou fronteiras. A forte valorização foi um dos assuntos em destaque na edição da semana passada da revista inglesa "The Economist". A publicação defende a ideia de que a febre por propriedades no Brasil e em outros países da América Latina - por mais que causem um certo temor de um exagero em relação ao desenvolvimento econômico da região -, está baseada muito mais em uma crescente prosperidade do que no excessivo endividamento da população.
A matéria diz que, em Lima, no Peru, o mercado imobiliário está aquecido desde que o país derrotou a hiperinflação. Em alguns bairros da capital, os preços das casas dobraram e os terrenos que ainda podem ser construídos estão custando até três vezes mais. Enquanto São Paulo vê um crescimento de 25% em alguns apartamentos, no Rio esses valores chegaram a dobrar.
Segundo a "The Economist", Colômbia e Panamá também vêm apresentando sinais de aquecimento no mercado imobiliário, e essa valorização acelerada tem causado medo de que a região possa estar vivendo numa bolha prestes a estourar. Mas a ideia é rechaçada, já que pelo menos, por enquanto, os novos e altos valores parecem sólidos. Até porque, os preços muito altos estão restritos aos melhores bairros das maiores cidades, e a regiões que vivem um grande desenvolvimento econômico.
Aluguel comercial no Rio, o mais caro das Américas
O artigo cita diversas explicações para a valorização desenfreada no Brasil, entre elas a descoberta de grandes bacias de petróleo e a escolha do Rio para sediar as Olimpíadas de 2016. E aponta esses fatores como atrativos para empresas estrangeiras que têm se estabelecido por aqui, enviando funcionários que precisam de um lugar para viver. O resultado é revelado por uma pesquisa da consultoria Cushman & Wakefield que mostra o aluguel comercial no Rio como o mais caro das Américas.
Para a publicação, porém, o grande motivador do boom imobiliário brasileiro é o maior acesso ao financiamento, que aumentou consideravelmente nos últimos oito anos. Principalmente por conta de mudanças nas regras da concessão do crédito, que incluem a criação do programa Minha Casa, Minha Vida.
Mas mesmo com o aumento, a concessão de crédito no Brasil ainda está muito aquém da oferecida nos Estados Unidos. Há cerca de seis anos, a dívida brasileira com financiamento imobiliário correspondia a cerca de 1,4% do Produto Interno Bruto (PIB) e hoje está perto dos 5%. Um crescimento considerável, mas ainda um total de financiamento de valor baixo, que não precisa gerar preocupação. Os contratos brasileiros, que liberam créditos de, em média, 80% do valor total das casas, são considerados conservadores pela revista.
Quando a crise imobiliária estourou nos Estados Unidos, em 2008, dois terços de todas as casas americanas tinham sido compradas com financiamento, e a dívida ultrapassava os US$10 trilhões, o equivalente a 72% do PIB.
Região ainda tem déficit habitacional muito alto
A publicação lembra ainda que, apesar do boom no mercado, a América Latina tem um longo histórico de déficit habitacional: cerca de 900 mil no Peru e estimado entre cinco e sete milhões, no Brasil, e que mesmo com alguns governos oferecendo subsídios para a compra da casa própria, o impacto no mercado ainda é muito pequeno.
E finaliza afirmando que o recente crescimento dos preços é apenas uma correção depois de anos de valores defasados por falta de concorrência na hora da compra.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Ao fazer comentário clique na opção conta do google ou anônimo para realizar o comentário