Brasil Econômico, Ana Paula Ribeiro, 16/mai
Para garantir uma participação maior no crédito à construção, os bancos estão reforçando o atendimento a grandes construtoras e incorporadoras, que são capazes de proporcionar operações com volumes elevados às instituições financeiras. Esse é o exemplo da Caixa Econômica Federal que, para manter a liderança nesse segmento de financiamento, criou uma superintendência específica para o atendimento a 21 dessas grandes companhias.
"A ideia é conseguir criar uma sinergia com as outras superintendências regionais e melhorar os processos", explica o presidente do banco, Jorge Hereda. Com um atendimento centralizado e concentrado nesse grupo de construtoras e incorporadoras, a Caixa pretende ser mais ágil na liberação de recursos para as obras.
A nova superintendência, localizada em São Paulo, começa a funcionar plenamente no próximo dia 23. Antes da criação da área, as grandes construtoras eram atendidas pela área corporate, que é destinada a grandes empresas de todos os setores.
Com uma estrutura reforçada para o atendimento, a Caixa espera um crescimento de 25% nas concessões de crédito imobiliária no ano, chegando a R$ 94,9 bilhões, sendo metade para produção. A meta foi revisada na semana passada - a anterior era alcançar R$ 82 bilhões -, após o desempenho dos quatro primeiro meses do ano.
Até o dia 7 de maio, R$ 21,5 bilhões já haviam sido liberados em operações para compra e construção de unidades habitacionais. O banco público possui cerca de 70% do mercado desse segmento de financiamento.
Outro banco que possui uma área de atendimento específica para grandes empresas do setor da construção civil é o Santander. Segundo a superintendente Alda Rosselli, a divisão é feita por porte das empresas: capital aberto, grandes e médias e varejo (construtoras de menor porte).
De acordo com a executiva, nas grandes companhias, a liberação dos recursos ocorre de forma mais rápida, em até 20 dias. "A análise de crédito da empresa está sempre atualizada, então precisamos checar apenas a viabilidade do empreendimento", explica. Para as empresas de pequeno e médio porte, a média para a liberação é de 40 dias.
Relacionamento com clientes de imóveis se descola dos lucros
Alda explica que as grandes empresas são importantes para impulsionar a carteira de crédito imobiliário, não só de pessoas jurídicas, mas também das físicas. Isso porque essas construtoras têm empreendimentos com um número elevado de unidades habitacionais e o Santander usa esse relacionamento para conceder financiamento imobiliário às pessoas físicas que compraram esses imóveis da construtora.
O Banco do Brasil, que estreou no crédito imobiliário apenas em meados de 2008, criou também uma área destinada ao atendimento de 16 grandes construtoras.
Para o diretor-executivo Sindicato das Empresas de Compra, Venda, Locação e Administração de Imóveis ( Secovi-SP), Celso Pretucci, iniciativas como essa ajudam a colocar o setor de habitação em uma posição relevante como a ocupada na década de 1980, quando tinha uma participação no PIB de 15%. No ano passado, a fatia ficou em 5,3%.
Ritmo de oferta
As seis maiores incorporadoras brasileiras movimentaram R$ 5,67 bilhões em lançamentos no primeiro trimestre do ano. Esse valor é 52% superior ao registrado por Brookfield, Cyrela, Gafisa, MRV, PDG e Rossi em igual período de 2010, quando o total chegou a R$ 3,73 bilhões entre janeiro e março.
Como a expansão de oferta não se traduz de imediato em vendas, os lançamentos não garantiram aumento do lucro líquido consolidado das empresas. No primeiro trimestre, as seis companhias lucraram R$ 623,2 milhões, resultado 7% inferior aos R$ 670,1 milhões do comparativo anual.
A queda reflete parte da aposta das empresas de avançar em regiões do país sem domínio da dinâmica local. "Durante o processo de expansão geográfica, adotamos premissas de viabilidade de projetos", disse a analistas o diretor-presidente da Gafisa, Wilson Amaral. "A segurança que incluímos nos estudos não foi suficiente para entregar a margem normalmente requerida." O executivo anunciou sua saída da empresa após cinco anos.
O desempenho da Gafisa contribuiu para a redução do lucro das i ncorporadoras. A empresa registrou queda 79% no lucro, com R$ 13,7 milhões no primeiro t ri mestre. Nos três primeiros meses de 2010, o resultado havia sido de R$ 79,6 milhões. A previsão é manter o revés no segundo trimestre. "A partir da segunda metade do ano esperamos normalização, aumento de margens e redução do endividamento", disse Amaral.
Essa situação fez com que a margem Ebitda ajustada da Gafisa passasse de 18,6% no primeiro t ri mestre do ano passado para 13,3% entre janeiro e março de 2011. Essa margem é ajustada por despesas não recorrentes e pelo plano de opção da companhia.
A Cyrela também registrou queda consistente, com redução de 57,4% sobre os R$ 174 milhões do primeiro trimestre de 2010. Entre janeiro e março deste ano, o lucro foi de R$ 74 milhões. "Durante o ano, vamos reconhecer empreendimentos com margens melhores", afirma o vice-presidente financeiro Luís Largman.
O resultado de Gafisa e Cyrela não foi acompanhado pel as outras i ncorporadoras. Destaque para a alta de 31,7% no lucro da MRV, que saltou para R$ 152,6 milhões, movimento seguido pela PDG, cuja elevação de 33% no período garantiu R$ 239,1 milhões, ante R$ 180 milhões do intervalo inicial do ano passado.
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