quinta-feira, 21 de abril de 2011

Falta de escritórios coloca São Paulo e Rio entre as mais caras do mundo

Valor Econômico, Daniela D'Ambrosio, 12/abr


As duas capitais brasileiras têm as menores taxas de vacância, segundo a Colliers

Douglas Frye, presidente mundial da Colliers, consultoria global de venda e aluguel de imóveis comerciais, nunca tinha vindo ao Brasil - apesar de ter inúmeras informações sobre o país e de a subsidiária estar aqui desde 1997. Impressionado com o tamanho do país e com a energia e atitude dos brasileiros, Frye fala, com desenvoltura, sobre dados demográficos e ascensão da classe média. "O Brasil é o país que tem a melhor história para contar hoje", diz o executivo. "A China ainda peca na questão da transparência."

O executivo acaba de voltar do Fórum Mundial de Davos e se diz impressionado com a popularidade do país. "A liderança global está mudando e o Brasil é um dos principais destaques", afirma. "Talvez vocês não percebam como usam bem a tecnologia a seu favor, vocês são grandes usuários de internet". Mas ressalta, também, os desafios da infraestrutura e do crescimento rápido. "O Brasil terá que saber gerenciar essa expansão", afirma.

Apesar do forte aumento de preços no mercado imobiliário brasileiro nos últimos dois anos - no mercado de escritórios, os aluguéis chegaram a dobrar em endereços mais nobres e, na média, em 2010, os preços tiveram aumento real de 17% - Frye defende que não existe bolha. "A alta dos preços dos imóveis é saudável e tem fundamento, está baseada simplesmente na demanda e oferta."

Estudo global da Colliers mostra que São Paulo e Rio são as duas cidades do mundo com taxa de vacância (índice de escritórios vagos) mais baixas do mundo, 2,6% e 1,6%, respectivamente. Na América Latina, essa taxa é de 5,9%. Em Nova York, a vacância é de 12,4%. Em Londres está em 8,2% e em Shangai, de 13,1%.

A evolução do mercado de escritórios é recente. Apesar da crise de 2008, a rápida recuperação do mercado brasileiro e a necessidade das companhias em expandir atuação e, consequentemente, buscar espaços maiores, fez com que a oferta disponível fosse ocupada rapidamente. Em 2003, a taxa de vacância em São Paulo era de 14,7%, contra 2,6% em 2010. É uma das quedas mais expressivas em sete anos.

Desde o ano passado, as duas cidades brasileiras figuram no ranking dos aluguéis de escritórios mais caros do mundo - situação favorecida pela valorização do real frente ao dólar. Levantamento global da Colliers, com base nos preços de dezembro de 2010, mostra que o preço médio do metro quadrado no Rio custava US$ 94,74 (o que coloca a cidade na sexta posição, atrás de cidades como Hong Kong, Londres e Paris). São Paulo ficou em oitavo lugar, com aluguel médio de US$ 79,73 o m2. Na Faria Lima, por exemplo, os preços pedidos já se aproximam de R$ 200.

Uma comparação com outras cidades da América Latina torna mais evidente a falta de oferta de escritórios de alto padrão no Brasil. Segundo dados da Colliers, São Paulo tem hoje menos escritórios do que Buenos Aires e Santiago e a metade da Cidade do México. Essa situação, no entanto, é temporária. O mercado é cíclico e, diante do aquecimento atual, há muitos projetos por vir. O mercado paulistano receberá cerca de 230 mil m2 em 2011, 13% do estoque atual. Até 2014, a cidade de São Paulo ganhará cerca de 850 mil m2 em novos edifícios e há mais 600 mil m2 em projeto, ainda sem data de definida para lançamento

Atualmente, São Paulo é a oitava cidade com maior quantidade de metros quadrados em construção, perde para quatro cidades chinesas, Moscou, Tóquio e Cidade do México. "O Brasil vai chegar no topo dos investimentos em 2012", afirma, acrescentando que, com o aumento da oferta, os preços dos aluguéis devem se estabilizar.

A visita de Frye ao Brasil se justifica tanto pela importância do país no cenário global, quanto pela estratégia da companhia. A Colliers pretende fazer a aquisição de uma empresa de gestão de condomínios - mercado no qual as suas concorrentes diretas já atuam. Com faturamento global de US$ 2 bilhões em 2010, a Colliers não abre a receita no Brasil. É líder na comercialização de imóveis industriais, mas ainda tem uma participação inferior às multinacionais do setor, Jones Lang La Salle, CB Richard Ellis e Cushman & Wakefield.

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