Brasil Econômico, Amanda Vidigal Amorim e Natália Flach, 26/abr
O mercado imobiliário de luxo no Brasil está em franco crescimento. Não se trata de um ritmo igual aos dos empreendimentos voltados para a classe C, que recebem incentivos do governo federal, mas atrai as incorporadoras pela alta rentabilidade. Elbio Fernandéz Mera, proprietário da imobiliária Fernandéz Mera e vice-presidente de comercialização do Sindicato das Empresas de Compra, Venda, Locação e Administração de Imóveis Comerciais de São Paulo ( Secovi São Paulo), afirma que os próximos anos serão de crescimento para o segmento. "Nos últimos anos, as incorporadoras estiveram muito focadas em prédios mais simples, com apartamentos menores. Agora estamos vendo uma demanda enorme por imóveis de luxo", afirma.
Segundo a Empresa Brasileira de Estudos de Patrimônio (Embraesp), de 2006 até março deste ano, foram lançados 13 empreendimentos de luxo na cidade de São Paulo. O número pode parecer pequeno, mas o movimento gerado por eles, é grande. "Foram apenas 481 unidades de alto luxo lançadas desde 2006 na capital paulista. Apesar disso, os empreendimentos renderam para as construtoras R$ 2,75 bilhões", afirma Luiz Paulo Pompéia, diretor de pesquisas da consultoria. "Consideramos de luxo imóveis com valor acima de R$ 4 milhões. Já o alto padrão são aqueles empreendimentos a partir de R$ 500 mil. Os dois segmentos apresentam uma demanda constante".
Em São Paulo, o metro quadrado mais caros entre estes imóveis é de um apartamento no bairro do Itaim Bibi, zona sul da cidade, que chega a R$ 19 mil. O luxo não se restringe aos acabamentos e ao espaço de cada imóvel, que chega a ter mais de mil metros quadrados. Djean Cruz, diretor regional de Odebrecht Realizações, afirma que um dos empreendimentos da construtora em Salvador oferece um teleférico que transporta os moradores ao píer próximo ao prédio, onde eles podem embarcar e desembarcar de seus barcos. "Estes detalhes fazem a diferença. É preciso saber que tipo de luxo pode ser funcional aos moradores", diz Cruz, ressaltando que há oportunidades para imóveis de luxo e alto padrão em todo o país.
A única ressalva que Cruz faz é da diferença de valorização das residências no Nordeste em comparação com o Sudeste. "Os imóveis que nós vendemos em Salvador ou Recife valem cerca de R$ 4 milhões, mas não valeriam menos de R$ 8 milhões se estivessem em São Paulo, por exemplo", afirma o executivo.
Maior mercado
A capital paulista atrai não apenas investimentos altos, mas também nomes que diferenciam os empreendimentos. Daniel Libeskind, arquiteto americano responsável pelo projeto que irá substituir as torres gêmeas destruídas no ataque terrorista de 11 de setembro de 2001 em Nova York, foi contratado pela construtora JHSF para projetar o edifício Vitra. Com 14 apartamentos, com plantas exclusivas e tamanhos que variam entre 565 metros quadrados e 1.145 metros quadrados, ele tem atualmente a cobertura mais cara da cidade. O preço de R$ 22 milhões, segundo Pompéia, atrai uma fatia de público que busca mais segurança. "O consumidor desses empreendimentos são visados pelo seu poder aquisitivo. Está cada vez mais difícil morar em casa quando se
São Paulo ainda é a cidade com o maior número de empreendimentos no segmento imobiliário de luxo, mas Cruz afirma que algumas regiões atraem cada vez mais investimentos dentro deste segmento. "Em Pernambuco, vivemos um momento de expansão. Com o Porto de Suape, estamos investindo na região que terá bairros inteiros projetados. É preciso atender os empresários que estão se instalando por lá."
Há opções em bairros não tradicionais
Os apartamentos de luxo em São Paulo são encontrados especialmente em bairros como Morumbi, Higienópolis, Moema, Jardins e Itaim Bibi. Mas Luiz Paulo Pompéia, diretor de pesquisas da Empresa Brasileira de Estudos de Patrimônio (Embraesp), afirma que novas regiões próximas a capital paulista começam a se tornar referência no segmento. "O empreendimento mais caro fora de São Paulo é a Fazenda Boa Vista, da JHSF, que oferece, por exemplo, a opção de flats administrados pelo hotel Fasano", diz.
Os interessados em alugar as casas da Fazenda Boa Vista pagarão R$ 2 milhões por mês pelo serviço. O local é o único empreendimento no Brasil com dois campos de golfe de 18 buracos cada. "Estas iniciativas mostram como o mercado tem, sim, uma demanda e que está crescendo para outros locais, fugindo do caos das grandes cidades", afirma Pompéia. A Granja Viana, em Cotia, na Grande São Paulo, também aparece como opção aos bairros saturados da capital.
Novos bairros
Com o aumento da procura por apartamentos de altíssimo padrão, bairros que tradicionalmente não eram referência para imóveis de luxo vêm ganhando espaço neste segmento. Na capital paulista, a zona leste é um exemplo de região que recebe cada vez mais esses empreendimentos. Elbio Fernandéz Mera, vice-presidente de comercialização do Sindicato das Empresas de Compra, Venda, Locação e Administração de Imóveis Comerciais de São Paulo (Secovi-SP) e proprietário da imobiliária Fernandéz Mera, explica que são apartamentos de alto padrão, mas que não chegam ainda a alcançar o custo médio de R$ 19 mil pelo metro quadrado como ocorre em imóveis de luxo localizados de outras áreas.
"Encontramos apartamentos em bairros como a Chácara Klabin e o Jardim Anália Franco, que não são tradicionais em imóveis de alto padrão, onde o metro quadrado parte de R$ 11 mil." Estes apartamentos se diferenciam dos de luxo, com metragens até mil metros quadrados e valores partindo dos R$ 4 milhões. Segundo Mera, os imóveis de alto padrão em regiões nobres da zona leste oferecem um produto a um cliente que busca sofisticação e conforto, mas quer, por exemplo, ficar perto da família. " Esses bairros são antigos e tradicionais, e vemos constantemente as mulheres querendo morar perto dos pais delas. Isso está obrigando as construtoras a apostar em locais que ainda não são referência no mercado de luxo."
Financiamentos para o público de alto poder aquisitivo anima bancos
Imobiliárias dedicadas ao mercado de luxo têm feito parcerias com bancos para oferecer aos seus clientes a possibilidade de financiar suas novas propriedades. A Sotheby's, por exemplo, firmou, no ano passado, acordo com o HSBC cuja meta é atingir um volume de crédito equivalente a R$ 1,5 bilhão, em quatro anos. "Já tínhamos feito uma parceria com o Santander em 2009, com validade de um ano, mas, por discordâncias da diretoria, preferimos fazer um contrato mais ousado com o HSBC", diz Celso Pinto, diretor da Sotheby's Internacional Realty Brasil São Paulo. Depois do divórcio, o Santander também buscou nova parceria, a Century 21 Exclusive. Definitivamente, não é por falta de dinheiro que esses compradores decidem pelo financiamento. Segundo o executivo, muitos deles preferem dividir o valor do imóvel para não precisar mexer nas suas aplicações ou vender ativos. "Se o cliente possui uma aplicação que rende 15% ao ano, pode ser mais vantajoso mantê-la e parcelar o imóvel do que se desfazer desses recursos", afirma Pinto. O executivo diz ainda que há clientes que alugam o escritório novo ou a mais recente casa de praia para pagar as prestações.
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