DCI, Paula Cristina, 29/abr
O megainvestidor do setor imobiliário Sam Zell, dono da Equity International, já disse que o Brasil seria sua escolha se tivesse de fazer uma única aposta nos próximos anos. Seguindo os passos de Zell, investidores estrangeiros têm dirigido um novo olhar para a construção civil brasileira. Ingleses, portugueses e espanhóis passaram a considerar mais atentamente a possibilidade de investir em prédios residenciais e comerciais nos grandes centros do País como um bom destino para o seu dinheiro. Para unir projetos e oportunidades a esses investidores, a Associação para o Desenvolvimento Imobiliário e Turístico (Adit), que nasceu há seis anos promovendo investimentos imobiliários no nordeste, realiza em maio a sexta edição da feira Adit Invest, que agora abrange território nacional e espera movimentar R$ 2,3 bilhões nos três dias de evento.
"Esse número representa um crescimento de 30% ante os negócios realizados em 2010, e deve-se principalmente ao bom momento do mercado imobiliário brasileiro, que está sendo reconhecido mundialmente", afirmou Luiz Henrique Lessa, presidente da Adit.
Para o executivo, os investidores estrangeiros estão prontos para entrar no território nacional e o Brasil está se preparando para recebê-los. "Notamos um crescimento notável de demanda entre os investidores estrangeiros, muito porque o Brasil agora possui uma política e economia estável e está em destaque, mas também porque temos uma classe média que consome muito em termos de espaço", disse.
Para Henrique Lessa, as principais oportunidades de negócios estão principalmente, em centros de logística e distribuição, shoppings e moradia para baixa renda. "Com o bom desempenho econômico do Brasil, vê-se cada vez mais necessidade de novas moradias e galpões para logística e distribuição", afirmou.
Europa e China
Para o presidente do Sinduscon-Rio, Roberto Kauffmann, o interesse por investimento vem principalmente dos europeus e dos chineses que atuam na Venezuela e querem se instalar no Brasil. Ele conta que há cerca de três meses recebeu do Consulado da China uma sondagem em nome de dez empresários, a metade dos quais estava de olho no segmento habitacional econômico. Entre as empresas que fizeram negócios no Brasil em 2010 está o fundo de investimento inglês Charlemagne Capital, que negociou, junto da alagoana Record Engenharia, a construção de um edifício de 312 unidades. Já a britânica RG Salamanca foi além, e fechou com a Ecocil, do Rio Grande do Norte, 14 prédios para a classe média, num total de 1.311 unidades. E já estão nos planos da dupla 25 mil unidades para o "Minha Casa, Minha Vida". Os portugueses do grupo Avistar se associaram à construtora Teto Planejamento para erguer um prédio de 110 apartamento para classe C. Mesmo com todo o otimismo dos investidores, o presidente da Adit destaca apenas um gargalo
para a atração de mais investidores internacionais: a dificuldade de conseguir linhas de crédito. Para Lessa, ainda há muito que caminhar na conversa entre governo federal, bancos e investidores para que se encontre um denominador comum. "Já estamos sendo ouvidos, e isso é um bom sinal. Mas ainda é necessário que sejam criadas facilidades dentro dos bancos para motivar o investidor estrangeiro", diz o presidente da Associação para o Desenvolvimento Imobiliário.
No mundo
O crescimento dos investimentos estrangeiros não é tendência só no mercado brasileiro. Uma recente pesquisa da Jones Lang LaSalle na área de Global Capital Markets, aponta o volume global de investimento imobiliário estrangeiro cerca de 60% maior em 2010, ante 2009, com cerca de 40% (US$ 130 bilhões) de todo o investimento direto em imobiliário no mundo. O número é equivalente ao de 2006, quando houve um boom imobiliário mundial. No continente americano, os investimentos duplicaram de 2009 a 2010, pulando de US$ 14 bilhões para US$ 31 bilhões.
Para Lorena Gomes Leite, especialista em investimentos imobiliários e professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) o aumento possui dois grandes prismas. "Muitos investidores europeus encontraram uma oportunidade nos EUA, devido a desvalorização dos imóveis lá. Investir em um prédio comercial em Manhattan e gastar US$ 40 milhões tornou-se altamente atrativo. Além disso, o Brasil também foi de suma importância para este número, já que o País tem trabalhado com políticas de promoção e atração de investidores internacionais", explica.
Otimismo
Outro importante termômetro do setor é a pesquisa global trimestral realizada pela Colliers International, em que grande parte dos mercados imobiliários mundiais está em alta. O estudo aponta que o Brasil, inclusive, paira como um dos mercados imobiliários emergentes mais atrativos para investidores estrangeiros, ao lado de países como Polônia e Ucrânia. "Hoje, ser um País emergente com estabilidade econômica é extremamente positivo", afirmou Lessa, que continuou: "Parece batido afirmar isso, mas a classe média é de suma importância para este resultado. A classe C nunca viajou tanto, nunca comprou tanto imóvel como com o programa do Governo Federal 'Minha Casa, Minha Vida'". De acordo com a pesquisa, 60% dos entrevistados demonstraram interesse em ampliar sua carteira imobiliária nos próximos 12 meses. "A maioria dos entrevistados demonstrou otimismo no mercado imobiliário global", observa Ricardo Betancourt, presidente da Colliers no Brasil.
Dentre os investidores que pretendem ampliar sua carteira, 70% o fariam em seu próprio país e 30% afirmaram que considerariam ir além de seu mercado doméstico. Na pesquisa anterior, feita no primeiro trimestre deste ano, 20% dos entrevistados demonstraram interesse em investir fora dos seus mercados. Os locais mais mencionados para investimentos estrangeiros foram Nova York, Chicago, São Francisco, Washington, Londres, Sydney, Cingapura e Hong Kong.
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