Fonte: Valor Econômico, Daniela D’Ambrosio, 09/Nov
Ele vive entre China, Inglaterra, Espanha e Brasil, mas foi aqui que escolheu para reviver suas origens. Alguns bilhões a mais na conta, um tanto de polêmica no currículo – amenizada por um capítulo breve e aparentemente bem-sucedido no mercado imobiliário – o espanhol Enrique Bañuelos volta ao cenário da construção civil brasileira. Não mais no papel de consolidador e comprador de empresas com problemas, mas como dono do próprio negócio. Está criando a Veremonte Real Estate, braço da holding Veremonte.
Depois das ousadas investidas que fez no setor imobiliário, que acabaram por lhe garantir o papel de maior acionista individual da maior incorporadora do pais, a PDG Realty – Bañuelos agora aproveita o bom momento para criar uma empresa que irá atuar nas áreas hoteleira, comercial, industrial e de armazéns logísticos. Capitalizado, o bilionário investiu R$ 200 milhões na operação, entre a compra de terrenos e projetos, e tem previsão de investir mais R$ 1 bilhão até 2012 – o que deve gerar R$ 3 bilhões de VGV. Até 2015, pretende chegar a R$ 10 bilhões.
Como é a marca de Bañuelos, não há modéstia nas projeções. Apenas duas empresas – entre 17 de capital aberto – devem chegar perto de R$ 10 bilhões em 2015. A própria PDG Realty e a Cyrela. Na faixa dos R$ 3 bilhões em vendas em 2012 ou acima disso, há um grupo maior, de cerca de seis empresas abertas, mas todas elas com um histórico mais longevo, além de capitalizadas por recentes ofertas em bolsa.
O modelo de negócios será montado via estruturação de fundos, o que significa que os R$ 3 bilhões de VGV devem corresponder a R$ 3 bi em fundos administrados – tanto fundos fechados, quanto para o varejo. Nesse caso, irá enfrentar a concorrência de bancos – o BTG Pactual é um dos mais agressivos, com cerca de R$ 5 bilhões de ofertas em análise na CVM – além de empresas como Prosperitas, WTorre e as estrangeiras, como Tishman Speyer e Hines.
Mas nada disso impede o empresário de avançar na área imobiliária, seu berço de atuação, embora já tenha expandido para a área de agribusiness. Vai aproveitar a influência e os contatos que possui em outros negócios para arregimentar investidores para os fundos que irá criar. “Ainda tem dinheiro de fora que não veio para o Brasil”, diz Luis Fernando Davantel que irá comandar o operação. “Os fundos serão um veículo para melhor eficiência e não fonte de recursos”, diz. Tanto que a ideia é oferecê-los quando o projeto estiver em andamento. “Não vamos vender ‘power point’”, cutuca.
Bom nas frases de efeito ao mesmo tempo que consegue ser extremamente detalhista, Davantel está com Bañuelos desde seus primeiros negócios no Brasil. Não esconde em seu discurso a veia financeira – Davantel já foi Itaú BBA, Votorantim, Santander e WTorre. “Minha paixão pelos ativos é zero”, diz, referindo-se à concorrência e ao fato de a maioria dos empresários ser muito “apegada” aos projetos. “Queremos montar um negócio de liquidez, com maturação em três ou quatro anos.” Davantel começou a montar a estrutura em janeiro e hoje conta com uma equipe de cerca de 30 pessoas.
Na área hoteleira, já tem contrato assinado com a Accor, desde o fim de 2009. Serão os responsáveis por 17 hotéis em 11 capitais (Ibis e Fórmula I ). Serão pelo menos quatro em São Paulo e dois no Rio. Segundo Davantel, serão investidos R$ 500 milhões nos próximos dois anos. “Iremos estruturar um fundo imobiliário só com os hotéis”, diz Davantel. “Dois dos maiores fundos dedicados exclusivamente a hotéis não estão no Brasil.”
A Veremonte Real Estate não irá atuar na área residencial. “Já estamos contentes com PDG Realty”, afirma Marcelo Paracchini, braço direito de Bañuelos e diretor da holding, que descarta nova rodada de aquisições de empresas. Circula no mercado uma versão que o espanhol teria vendido boa parte de suas ações em PDG com lucro e praticamente zerado sua posição. “É que temos vários veículos que foram usados na compra das outras empresas, como Agra, Abyara e Klabin Segall, cada uma com um nome, e na Veremonte mesmo a participação é menor”, responde
Nas área de galpões industriais, a empresa investirá em áreas para vários ocupantes e para uma única empresa, no modelo de “build to suit” (com contratos longos e sob encomenda). A Veremonte tem 1,5 milhão de m2 no quilômetro 40 da Castelo Branco, com potencial de locação de até 600 mil m2. Apenas essa operação vai exigir investimento de R$ 500 milhões.
Além dos galpões, pretende desenvolver pequenos centros comerciais e escritórios mais acessíveis, para empresas de call center, por exemplo. “Já temos parceiros que viriam para 40 endereços desse tipo no Brasil”, diz.
A empresa comprou da Brookfield, por R$ 100 milhões, a antiga sede da BCN em Alphaville, uma área de 80 mil m2, que pode chegar a 720 mil m2 de área construída. Segundo Davantel, será um produto de 10 a 15 anos de desenvolvimento. A empresa cogita até demolir áreas que irá montar hoje. “Isso é muito comum lá fora, o que faz sentido hoje pode não fazer daqui a 15 anos”, explica.
No segmento de escritórios, está apostando no mercado do Rio de Janeiro. Comprou dois edifícios comerciais para reforma no centro da cidade e está perto de fechar mais três ou quatro. “Queremos ter pelo menos 50 mil m2 no Rio este ano”, diz. Para Davantel, o mercado de propriedades comerciais ainda tem muito para se desenvolver. “O que temos hoje não é nada perto do que teremos em cinco anos”, prevê. “Hoje, em 90% dos casos, quem desenvolve é dono do ativo. Essa equação vai mudar e 90% vai estar na mão do investidor”, diz.
Contexto
O espanhol Enrique Bañuelos foi apresentado ao mercado imobiliário brasileiro pelo banco Credit Suisse em setembro de 2008, bem no auge da crise. Em fevereiro do ano seguinte, fez a sua primeira operação: uniu-se à Agra – que sofreu um revés na bolsa depois que a Cyrela desistiu de sua compra – para comprar a Abyara. Em abril de 2009, novamente em parceria com a Agra, adquiriu a Klabin Segall. Cinco meses depois, anunciou a criação da Agre, empresa que representou a Agra, Abyara e Klabin Segall. O fim bem-sucedido da operação – e inesperado – aconteceu com a venda da Agre para a PDG Realty.
Inicialmente, investiu R$ 150 milhões para ficar com Abyara e Klabin Segall. Depois, pagou mais R$ 150 milhões para comprar metade da participação que resultou da Cyrela na Agre e mais R$ 150 milhões pela parte dos sócios da Agra no negócio.
Na Espanha, sua trajetória começou em 1995, quando criou a imobiliária Astroc. Menos de um ano após a abertura de capital da companhia, o preço das ações subiu mais de dez vezes. E foi justamente no ramo imobiliário que ele fez fortuna – em 2007, já estava na lista dos bilionários da Forbes, como o terceiro homem mais rico da Espanha. As ações desabaram por conta de denúncias que parte do resultado havia sido conseguido artificialmente, mas nada ficou provado contra ele.
De origem humilde, hoje é dono de um castelo do século XVIII, em Mallorca, e tem três aviões. Divide seu tempo entre cinco residências: Pequim, Madrid, Londres, Nova York e São Paulo, a última aquisição.
Este ano, começou a atuar fora do mercado imobiliário brasileiro. O fundo Arion Capital, que tem Bañuelos como principal investidor, está negociando a compra de 86% do grupo agroindustrial Maeda por cerca de R$ 100 milhões, além da dívida. O processo está em fase de due dilligence e a operação deve ser concluída até 30 de dezembro.
Recentemente, o grupo Maeda anunciou que está negociando a compra da Brasil Ecodiesel, uma das maiores produtoras de biodiesel.
Esta entrada foi publicada em 09/11/2010 às 12:17 e é arquivado em Mercado.. Você pode seguir qualquer respostas para esta entrada através de RSS 2.0 feed. Você pode deixe uma resposta, ou trackback do seu próprio site.
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