Valor Econômico, Daniela D'Ambrosio, 20/ago
No pacote de estratégias adotado pelas construtoras para controlar custos, aumentar a produtividade e evitar gargalos que atropelem os altos níveis de crescimento, a compra de equipamentos ganhou importância entre as empresas de maior porte. MRV, Cyrela, Gafisa e Direcional estão investindo na compra de gruas, escoras, andaimes e elevadores para não depender da disponibilidade e do preço cobrado pelas empresas de aluguel de material pesado.
O processo de verticalização na construção está atingindo níveis cada vez maiores. Começou com a compra de formas de alumínio, contratação de mão de obra própria - nesse caso, para tentar garantir um mínimo de fidelidade - e agora chega aos mais diversos tipos de equipamentos. Com a promessa de lançar de 30 mil a 40 mil unidades por ano, as construtoras atingem uma escala que permite investir nesse tipo de ativo. Uma linha do Finame com juros entre 4,5% e 7,5% ao ano para compra de equipamentos nacionais ajuda a fechar essa conta.
A mineira MRV, que vendeu 16,4 mil unidades no primeiro semestre, optou pela compra de equipamentos. "Chegamos à conclusão que vale a pena investir em equipamentos", afirma Rubens Menin, presidente da companhia. A empresa está comprando gruas, tratores elevadores e um equipamento que faz o transporte vertical e horizontal de material. Em 2007, a companhia investiu R$ 324,6 mil em equipamentos. No ano passado, esse volume cresceu mais de cinco vezes, atingindo R$ 1,7 milhão. Este ano, até agora, já foram R$ 3,3 milhões, mas deve chegar a R$ 5 milhões até dezembro. "Estamos fazendo canteiros maiores, com duas mil unidades e faz todo sentido comprar", diz Menin. Segundo o empresário não falta material para alugar, mas o preço está mais alto.
A Cyrela segue no mesmo caminho na sua empresa de imóveis econômicos, a Living - onde o controle de custos precisa ser muito rígido para ser rentável. Segundo Antônio Guedes, diretor da Living, a empresa está comprando escoras, andaimes e elevadores. Vai investir entre R$ 5 e R$ 7 milhões este ano. "Não vai chegar a 1% da receita", afirma Luis Largman, diretor financeiro da companhia. "Quando você aluga, precisa entrar na fila e pode não ter disponibilidade financeira quando precisa", diz Guedes. A empresa - que também está contratando mão de obra própria - chegou a investir em equipamentos de um de seus principais fornecedores de blocos de concreto. Foram cerca de R$ 8 milhões na compra de equipamentos para aumentar a capacidade da empresa e garantir o seu abastecimento.
A Direcional, outra empresa que atua na baixa renda, vai investir R$ 30 milhoes este ano apenas na compra de equipamentos pesados. A companhia é uma das mais verticalizadas do setor - 100% da mão de obra é própria - e procura fazer tudo dentro de casa. Além das formas, a empresa comprou empilhadeiras, elevadores, guindastes. O problema, segundo a companhia, é maior nas regiões mais carentes de fornecedores de materiais de aluguel, como Norte e Nordeste. O grande volume de obras e o prazo apertado justificam ter equipamentos próprios - segundo a área de relações com investidores da companhia. O grande volume de compras começou em junho do ano passado.
O diretor de construção da Gafisa, Mário Rocha, afirma que a empresa prefere investir no próprio negócio do que aumentar o patrimônio com equipamentos, mas estuda pontualmente a compra de determinados materiais. A Gafisa comprou 12 mil escoras metálicas da China, que tem vida útil de 15 obras e cujo custo se amortiza em uma obra e meia. A companhia também está com uma fábrica de blocos dentro do canteiro e usinas de concretos em regiões mais distantes, como Maranhão.
Em Pernambuco, a concorrência com o Complexo Portuário de Suape, atrapalhou a contratação de mão de obra e o aluguel de equipamentos. Há dificuldade para encontrar guinchos, gruas e torres de elevação no Estado. "Me arrisco a dizer que cerca de 70% do maquinário disponível no Estado está por lá", diz José Cyrino Neto, proprietário da pernambucana Taperoá Construção. As construtoras baianas estão pressionando os fornecedores e trazendo equipamentos de outras praças, como Sergipe, Paraíba e Rio Grande do Norte.
O vice-presidente do Sindicato da Indústria da Construção Civil de Minas Gerais, José Francisco Couto de Araújo Cançado, que também é da empresa Conartes, conta que comprou elevadores e gruas, graças a linhas de financiamento. "O que pagamos atualmente equivale ao custo da locação. Desistimos da terceirização porque estávamos tendo dificuldade de garantir os equipamentos", diz Araújo. (Colaboraram Murillo Camarotto, do Recife, e César Felício, de Belo Horizonte)