DCI, Ernani Fagundes, 12/ago
O crédito imobiliário deve financiar 930 mil imóveis em 2010, mas a demanda média anual deve superar 1,37 milhão de unidades por ano até 2016. Esse déficit habitacional de mais 400 mil unidades anuais deve continuar a pressionar a demanda por crédito imobiliário no País.
"Em 2014, a demanda por crédito imobiliário será de R$ 520 bilhões, precisamos de outras alternativas além da poupança para financiar a crescente demanda", alerta o presidente da Associação Brasileira de Entidades de Crédito Imobiliário (Abecip), Luiz Antonio França.
De acordo com dados do Banco Central, a captação líquida da poupança saltou para o recorde de R$ 5,32 bilhões em julho, acumulando R$ 14,16 bilhões no ano.Dessa forma, o saldo de recursos da poupança para crédito imobiliário (SBPE) atingiu R$ 276,9 bilhões ao fim de julho desse ano.
Mas mesmo com essa boa performance a Abecip busca outras alternativas para complementar os recursos do crédito imobiliário. "Nós nos reunimos nessa terça-feira com a Secretaria de Política Econômica do Ministério da Fazenda para propor a adoção dos covered bonds no Brasil", informou França.
Segundo o executivo, os covered bonds, tradicionalmente utilizados na Europa, podem servir como mais um instrumento de crédito a ser utilizado pelos bancos. "É uma espécie de LCI [Letra de Crédito Imobiliário] em que o banco pode emitir esse título", exemplifica França.
O presidente da Abecip justificou a necessidade de mudar a legislação para que o produto possa ser adotado no Brasil. "A diferença é que, em caso de não-pagamento, os ativos podem ser transferidos diretamente para o investidor", detalha França, sobre a forma de garantia do novo título.
Atualmente, a legislação prevê que, em caso de insolvência, a preferência de receber os ativos é do governo, seguido pelos custos trabalhistas; só depois o investidor tem direito ao resgate.
O economista-chefe da consultoria MB Associados, José Roberto Mendonça de Barros, diferenciou os covered bonds dos atuais instrumentos de securitização. "Os covered bonds são utilizados pelos bancos para captar crédito de longo prazo, ao passo que a securitização é um mecanismo do mercado de capitais", explicou Barros ao DCI.
O presidente da Abecip diz que o setor está atento à demanda futura de crédito. "Em setembro vamos conversar com a Anbima [Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiros e de Capitais] e com a CVM [Comissão de Valores Imobiliários] para discutir a necessidade futura de financiamento imobiliário", informa França.
Bolha
Enquanto o novo instrumento não é adotado, o setor avalia a existência de uma bolha imobiliária no Brasil.
A Abecip aproveitou o balanço para divulgar um estudo encomendado à MB Associados sobre essa questão, e apontou que há uma valorização expressiva dos imóveis por conta da forte demanda. "O preço dos imóveis vai continuar subindo nos próximos anos", avalia o economista da MB Associados, Sérgio Vale.
Mas, ao mesmo tempo, Mendonça de Barros avalia que essa valorização não é semelhante à bolha imobiliária que ocorreu nos Estados Unidos antes da crise econômica mundial de 2008. "Não temos esse oba-oba das características básicas de uma bolha clássica. Não há desequilíbrio macroeconômico nem alavancagem", argumenta Mendonça de Barros.
"O que existe é um processo de aumento de preços por conta da demanda, mas com o crescimento da renda a população vai conseguir absorver o aumento do preço dos imóveis", avalia Barros.
De acordo com dados divulgados pela MB Associados, a massa anual de renda está crescendo entre 8% e 8,5% acima da inflação em todo o País. "Os principais centros imobiliários estão muito ativos. Rio de Janeiro cresce a 8,5%, e São Paulo, a 8,1% até 2015", informa Sérgio Vale.
Mendonça de Barros considerou que o desafio do setor é "industrializar a construção de conjuntos habitacionais para a classe C", concluiu o economista-chefe.
O setor de construção civil, que no ano passado faturou R$ 76 bilhões, com crescimento de 47%, deve melhorar ainda mais seus resultados nos próximos anos com a demanda crescente, e sem o perigo de sofrer uma eventual "bolha" que afete o sistema financeiro.
Apenas as 100 maiores construtoras que atuam no País tiveram alta de faturamento em 2009 de 15,3% em sua receita conjunta, chegando ao 5º ano consecutivo de crescimento e a R$ 54,4 bilhões. A Odebrecht manteve a liderança de faturamento no setor, mas está seriamente ameaçada pela Camargo Corrêa: a diferença é de apenas 0,5% entre as duas.
"Em 2014, a demanda por crédito imobiliário será de R$ 520 bilhões: precisamos de outras alternativas, além da poupança, para financiar a crescente demanda", alerta o presidente da Associação Brasileira de Entidades de Crédito Imobiliário (Abecip), Luiz Antônio França.
Estudo feito pela MB Associados mostra que existe uma demanda não atendida de 500 mil moradias por ano, e projeta um avanço do preço dos imóveis, mas descarta a possibilidade de uma bolha no setor. José Roberto Mendonça de Barros, economista-chefe da consultoria, diz que as características do crescimento do mercado brasileiro são diferentes daquelas do mercado norte-americano. "Não temos esse oba-oba das características básicas de uma bolha clássica: não há desequilíbrio macroeconômico nem alavancagem", ressalta.