sábado, 14 de agosto de 2010

Economistas negam que exista bolha imobiliária no Brasil.

'Estouro' especulativo nos EUA causou crise financeira global em 2008.
José Roberto Mendonça de Barros diz que alta local reflete demanda.

Ligia Guimarães
do G1, em São Paulo


O aumento dos preços no mercado de imóveis brasileiros não é uma bolha imobiliária, segundo estudo realizado pela consultoria MB associados a pedido da Associação Brasileira das Entidades de Crédito Imobiliário e Poupança (Abecip) e divulgado nesta quarta-feira (11).

Assista no vídeo ao lado: Maior demanda da classe C gera alta de preços dos imóveis

"Não temos dúvida alguma em afirmar que não há bolha imobiliária no Brasil. Existe um aumento de preço nos valores de imóveis porque há aumento da demanda, mas não uma bolha. Não temos os elementos que caracterizam uma bolha”, afirmou o economista José Roberto Mendonça de Barros, da MB Associados, ex-secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda.

Embora não haja garantias sobre se a valorização dos imóveis deva continuar por muito tempo, uma eventual redução nos preços não teria impacto macroeconômico como o que foi registrado nos EUA e que culminou na maior crise financeira nos Estados Unidos desde 1929, aponta a consultoria.

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Crédito imobiliário com dinheiro da poupança cresce 77% no semestre O estudo foi feito a pedido da entidade para responder a questionamento recorrente no mercado brasileiro: há a possibilidade de a valorização imobiliária nacional ser algo parecido com a bolha especulativa dos EUA?

A MB estima que a demanda imobiliária média anual deva continuar crescendo nos próximos anos, principalmente na classe C: o ritmo previsto para essa faixa de renda é de demanda média de quase 15 milhão de imóveis por ano entre 2010 e 2016.

Alta e especulação
Conforme os economistas, o estudo não sinaliza, porém não descarta a possibillidade de o Brasil vir a ter uma bolha imobiliária no futuro. "Provavelmente não (haverá). A razão principal para acreditarmos nisso é que não há expectativa de desregulamentação financeira no Brasil. Então mesmo que os preços dos imóveis caiam, isso não causaria desequilíbrio econômico", afirmou Barros.

Ele não afasta o efeito da especulação nesse mercado, mas argumenta que no caso de uma explosão dos preços as vendas sofreriam impacto, o que levaria à necessidade de uma revisão dos valores. "Nesse caso, não há hipótese de um efeito manada colocando em risco a economia", prevê.

Bolha nos EUA
De acordo com o estudo, o mercado de imóveis do Brasil tem elementos bem diferentes da bolha imobiliária norte-americana: não há exagero no volume de empréstimos imobiliários tomados pelas pessoas físicas ou doados pelos bancos. A valorização, diz a MB, reflete um aumento da demanda causado pelo crescimento da economia, da renda, e da disponibilidade de crédito no país.

Além disso, há uma diferença fundamental entre o quadro brasileiro e o americanos pré-bolha, segundo Barros: as regras bancárias brasileiras são rígidas, diferentemente do que acontecia nos EUA antes do "estouro" da bolha.

"A regulamentação bancária no Brasil é muito estrita e as garantias e os procedimentos para fazer os financiamentos são bastante controlados", afirmou Mendonça de Barros.

O "afrouxamento" das regras para concessão de crédito para imóveis nos EUA é apontado como um dos principais pontos que propiciaram o problema no setor: permitiu a concessão de crédito para pessoas que não tinham condições de pagar a dívida.

"No caso americano, algumas coisas foram feitas no final da década de 70 para desregular o mercado de crédito e permitir que houvesse uma expansão do crédito imobiliário sem muita regulação", afirmou Sérgio Vale, economista-chefe da MB associados durante a apresentação do estudo na sede da Abecip, em São Paulo.

"Como qualquer coisa, o preço de imóveis não é diferente do preço de automóveis, do preço de alimentação. O aumento da demanda veio por causa de crescimento, por causa de financiamento mais disponível, pela formação de novas famílias, de repente a demanda cresceu substancialmente e aí pressiona as produção que ainda é pequena. Está crescendo, mas não é bolha, portanto não implica em riscos para o crescimento da economia".

Outro argumento da MB é que os níveis de inadimplência nos financiamentos imobiliários tem caído fortemente ao longo dos anos: o percentual de empréstimos com atraso superior a três meses caiu de 12% em 2000 para 2,52% em 2010.

(Com informações do Valor Online)