Folha de São Paulo, Edson Valente, 01/ago
A área útil média dos apartamentos lançados na cidade de São Paulo tem diminuído ano a ano desde 2005. Levantamento da empresa de pesquisas imobiliárias Geoimovel para a Folha aponta que, em 2005, uma nova unidade media 150,7 m2. Em 2010, considerados os lançamentos até julho, o espaço cai para 71,9 m2.
Alguns fatores explicam o encolhimento dos imóveis, segundo os especialistas. Um deles é o público-alvo dos incorporadores.
"Aumentou a produção imobiliária para a classe média baixa", afirma Celso Amaral, diretor da Geoimovel e da Amaral d'Avila Engenharia de Avaliações.
A falta de terrenos para incorporação nas regiões mais centrais da cidade, por sua vez, encarece os lotes ainda disponíveis e consequentemente o metro quadrado construído. Assim, a escassez e o encarecimento da terra impulsionam os lançamentos para lugares mais periféricos, onde áreas menores são mais compatíveis com o padrão econômico dos empreendimentos, destaca Fabio Romano, diretor de incorporação da incorporadora Yuny.
"Em trechos da zona norte", exemplifica, "os bairristas que migravam para a zona oeste ou a zona leste por falta de oferta agora podem comprar na região."
Romano destaca ainda o programa governamental Minha Casa, Minha Vida como atrativo para o surgimento de unidades menores.
"Os incentivos para a sua construção ajudam a fechar a conta do incorporador", diz.
Preços sobem em regiões mais centrais
Se, em média, os apartamentos diminuem de tamanho na cidade de São Paulo, seus preços percorrem o caminho inverso.
"Subiram muito, mais que o razoável", determina Celso Amaral, diretor da Geoimovel e da Amaral d'Avila Engenharia de Avaliações. "Dependendo da região, poderá ocorrer realinhamento de valores a médio prazo", prevê.
"Não há moradias no Itaim [zona oeste] por menos de R$ 8.000 o metro quadrado", especifica Fabio Romano, da incorporadora Yuny.
"Em um distrito como o da Vila Prudente [zona leste], esse valor cai para R$ 3.500 ou R$ 4.000", calcula.
Se tomarmos os valores do três-quartos médio -80 m2- lançado na cidade nos últimos 12 meses, percebemos que a variação de preços de um mesmo perfil de imóvel é significativa entre diferentes distritos da cidade.
Em Santo Amaro, região da zona sul que tem se consolidado nos últimos anos como foco de incorporadores, esse tipo de unidade custa, em média, R$ 386,5 mil (veja no quadro), considerados os preços de lançamentos de 2009 e 2010 (até junho), segundo a Geoimovel.
No Tatuapé (zona leste), o preço médio cai para R$ 220,5 mil, ou 43% menos. Nos últimos 12 meses, entre os distritos que mais receberam lançamentos em São Paulo estão os menos centrais Água Rasa e São Lucas (zona leste), o que mostra a diversificação dos incorporadores na busca por terrenos.
A arquiteta Marcela Ang, 28, comprou com o noivo um apartamento de três dormitórios em um dos atuais redutos de lançamentos desse tipo, a Vila Leopoldina (zona oeste). O imóvel, de 96 m2, será entregue em novembro.
"Durante seis meses procuramos [a casa própria] pelo valor que podíamos gastar", conta Ang. "Tivemos dificuldades para achar um apartamento de até 100 m2 em regiões boas."
Ela diz que já pretende revender o bem e procurar outro que esteja em uma localização mais próxima de seu trabalho ou do de seu noivo.
"Andamos pesquisando, mas os imóveis estão muito caros. Nos Jardins [zona oeste] e no Itaim, há unidades de 40 m2 que custam R$ 300 mil", dimensiona.
PEQUENOS E CAROS
Em regiões mais centrais, onde os terrenos para incorporação são escassos e caros, empreendimentos pequenos com um padrão de acabamento elevado e serviços no condomínio são uma saída para os incorporadores.
Fernando Sita, diretor-geral de vendas da imobiliária Coelho da Fonseca, menciona o exemplo de unidades de 43 m2 cujo metro quadrado é vendido a R$ 7.200 na Vila Olímpia, na zona oeste -o preço fechado do imóvel gira em torno de R$ 310 mil.