terça-feira, 3 de agosto de 2010

Gigante imobiliária, PDG mira Norte e Nordeste.

Folha de São Paulo, Camila Fusco, 01/ago


Dona de um faturamento de R$ 4,2 bilhões, a PDG Realty encontrou na Agre, companhia incorporada em maio, o principal apoio para crescer nas regiões Norte e Nordeste. Segundo a Folha apurou, os lançamentos imobiliários da PDG nas duas regiões devem beirar R$ 2 bilhões neste ano. O volume é considerado expressivo por especialistas e dá novo fôlego de crescimento à PDG, que até agora concentrava mais da metade dos negócios no centro-sul.

Procurada, a PDG não se pronunciou, afirmando estar em período de silêncio.

"A Agre é o carro-chefe de diversificação geográfica da PDG nessas regiões", diz Armando Halfeld, analista da Ativa Corretora.

Imobiliária líder em vendas no país no ano passado, num momento de expansão histórica do setor, a PDG teve um crescimento meteórico nesta década.

Criada em 2003 a partir de investimentos do Pactual Capital Partners (PCP), divisão do Banco Pactual, a companhia passou de empresa virtualmente desconhecida para a condição de gigante do setor.

Neste ano, a previsão é atingir a faixa entre R$ 6,5 bilhões e R$ 7,5 bilhões em lançamentos imobiliários.

A estratégia para o crescimento foi a de aquisições do controle e de participações em oito empresas nos últimos quatro anos.

Fruto da união entre Abyara, Klabin Segall e Agra, a Agre prevê que 56% de seus lançamentos no ano, avaliados em R$ 2,5 bilhões, aconteçam no Norte/Nordeste. É a primeira vez que os lançamentos nas duas regiões superam Sul e Sudeste.

SALVADOR

Salvador é a principal área de interesse. Neste ano, foram lançados três empreendimentos na cidade, que até dezembro deve receber outros dois, num total de R$ 900 milhões.

"A demanda está concentrada principalmente no segmento residencial, mas miramos também oportunidades comerciais", diz Beto Horst, presidente da Agre.

Natal e Recife são outras capitais-alvo de crescimento da PDG com a Agre. Em Fortaleza, a companhia também receberá o reforço dos empreendimentos da Goldfarb, braço dedicado ao segmento econômico e controlado pela PDG desde 2006.

"No Norte, os alvos são Manaus e Belém, onde a Agre atua com parceiros locais de incorporação", diz Horst.

No Amazonas, a parceria da Agre é com a construtora Amazonas, e, no Pará, com a Leal Moreira.

Prazo e custo favorecem pré-moldados

Estruturas pré-moldadas de construção são a aposta crescente da PDG para reduzir custos com mão de obra e acelerar a entrega de obras.

Em Salvador, onde a Agre está construindo um condomínio com 1.300 apartamentos no bairro de Piatã, foi montada uma fábrica de pré-moldados em alvenaria no canteiro de obras em parceria com a construtora baiana Sertenge.

Uma espécie de "linha de produção" fabrica e une os blocos de concreto que formarão as paredes. Três gruas transportam a estrutura depois de montada, como as paredes prontas, até o andar pertinente.

"O modelo traz corte de custos de 10% a 15% em relação à alvenaria tradicional", diz Beto Horst, presidente da Agre. A companhia estuda levar o método também para Belém e Manaus.

O uso de estruturas pré-moldadas é tão estratégico para a PDG que a companhia propôs recentemente a aquisição da Jet Casa, principal fornecedora da Goldfarb, seu braço de construção para o segmento econômico.

Com três fábricas -em Campinas, Cuiabá e Goiânia-, a companhia paulista fornece a infraestrutura, baseada em tijolos simples para casas de até dois andares. O corte de custos estimado é de até 30% com mão de obra.

CLASSE MÉDIA

No segundo trimestre, o segmento econômico representou 51% das vendas da PDG, com lançamentos de até R$ 250 mil. A fatia da média renda, com valores até R$ 500 mil, fortalecida com a incorporação da Agre, representou 12%.

Entre os lançamentos econômicos da PDG, 68% custam até R$ 130 mil -são elegíveis ao programa Minha Casa, Minha Vida.

"A PDG está bem integrada, com empreendimentos desde R$ 80 mil até acima de R$ 1 milhão. Ao lado da Gafisa, da Cyrela e da Rossi, ela conquistou a capacidade de estar em todas as faixas de renda", diz Eduardo Silveira, analista do Banco Fator.

Os primeiros ganhos com a incorporação da Agre já puderam ser percebidos nos resultados preliminares do primeiro semestre. A companhia vendeu R$ 2,9 bilhões, 75,4% a mais do que no mesmo período do ano anterior.

REORGANIZAÇÃO

O endividamento da Agre, que chegou a quase 50% do seu patrimônio líquido, já não tira o sono dos gestores da PDG, que sanearam as finanças da empresa.

"Todas as nossas dívidas já foram renegociadas", afirma Horst, da Agre.

Algumas das táticas de negociação envolveram o pré-pagamento das debêntures e o uso do nome PDG para a liberação de recursos para obras da Agre, em dificuldades para obter crédito.