Preço de lotes inviabiliza lançamentos para baixa renda no município e aumenta concentração de imóveis de alto padrão
A cidade de Santos virou um canteiro de obras. Depois de uma década de estagnação, o mercado imobiliário da cidade começou a construção de empreendimentos residenciais e comerciais para atender a demanda de empresas e trabalhadores que chegarão em Santos nos próximos anos. Apesar da perspectiva de prosperidade econômica, a limitação geográfica indica que não haverá espaço para todos em Santos. Os lançamentos concentram apartamentos de médio e alto padrão e indicam uma tendência de migração da população de baixa renda para municípios vizinhos.
Os investimentos no porto de Santos e da Petrobras na região engrossarão uma corrente migratória de população com média e alta renda que já existe na cidade. Hoje, ela é formada por pessoas que querem fugir dos grandes centros urbanos, antes ou depois de se aposentar. É o caso da aposentada Vera Lúcia Prado, que trocou São Paulo por Santos há três anos. Depois de morar seis meses de aluguel, Vera comprou um apartamento em 2007 na praia do Gonzaga por cerca de R$ 300 mil, com valor atual estimado de R$ 480 mil. “Vim pela qualidade de vida e já recomendei a cidade para meus familiares”, afirma.
O mercado imobiliário se prepara para essa nova onda migratória com uma enxurrada de lançamentos imobiliários que começou a mudar a paisagem de bairros nobres, como Ponta da Praia, Gonzaga e Boqueirão. Na paisagem, muitas obras, fachadas novas e placas de plantões de vendas.
Assim como Vera, os novos moradores procuram apartamentos perto das praias, mas não haverá espaço para todos. “Todas as construtoras miram essas áreas, mas a orla tem apenas 8 km”, afirma Ney Cordeiro, gerente de vendas do grupo Mendes, líder do setor na região. A combinação de pouco espaço disponível e muitos interessados trouxe uma conseqüência inevitável: a valorização dos terrenos e dos imóveis na cidade.
Com esta particularidade, o mercado imobiliário de Santos fica de fora da tendência nacional de concentração de lançamentos para a baixa renda, enquadrados no programa habitacional Minha Casa, Minha Vida. Na carteira de vendas da imobiliária Lopes, por exemplo, a maioria dos 31 empreendimentos lançados na região desde 2007 oferece imóveis de três ou quatro dormitórios. “Em Santos, não temos nenhum lançamento do Minha Casa, Minha Vida”, afirma o diretor-executivo da unidade da Lopes na região, Paulo Pinheiro.
Elitização
Com a onde de investimentos esperada para a cidade, a tendência é que as construtoras continuem mirando o público de alta renda. “Santos vai se tornar uma cidade de ricos”, afirma Carlos Ferreira, representante do Conselho Regional dos Corretores de Imóveis (Creci) na baixada santista e dono de uma imobiliária local. Para ele, o lado negativo da valorização imobiliária é justamente a exclusão social que ela provoca.
Esse processo já começou em Santos e o primeiro passo ocorre no mercado de locação. “Os proprietários optam por não renovar os contratos de aluguel porque sabem que podem conseguir valores maiores com novos moradores. Os inquilinos não encontram ofertas com preços acessíveis e tendem a migrar para bairros periféricos”, relata Ferreira.
Outra particularidade de Santos que prejudica a oferta para locação de imóveis de baixo valor é a demanda de temporada, formada por turistas que querem passar o verão na cidade. A locação de um apartamento de três ou quatro quartos na praia do Gonzaga custa entre R$ 800 e R$ 1000 por dia durante o verão, segundo estimativas de corretores da região. A diária de uma kitnet no mesmo bairro chega a R$ 150. “Alguns proprietários optam por deixar os imóveis fechados o ano todo e alugar apenas na temporada porque o lucro é maior”, afirma Fereira.
Além de bairros longe da orla, as opções de imóveis para a população de média e baixa renda estão se concentrando nas cidades vizinhas, como Praia Grande, São Vicente e Guarujá. Uma das construtoras que já lançou empreendimentos nestas cidades foi a Camargo Corrêa Desenvolvimento Imobiliário (CCDI), com dois lançamentos em São Vicente. Ambos são classificados como opções econômicas, com preço médio por unidade de até R$ 200 mil, mas não estão contemplados pelo Minha Casa, Minha Vida, que limita o valor do imóvel a R$ 130 mil. “Temos interesse em lançar opções dentro do programa na região, mas fechar esta conta lá não é fácil pelo preço do terreno”, afirma Maurício Barbosa, diretor de incorporação da CCDI
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