sábado, 17 de julho de 2010

Preço de imóveis novos disparam,com alta de até 43% em um ano em SP.

O Estado de São Paulo, Márcia De Chiara, 18/jun
Os imóveis residenciais novos, tanto os de classe média como os empreendimentos de alto padrão, tiveram forte valorização este ano na cidade de São Paulo, com grande aceleração de preços nos últimos meses. Pesquisa da Empresa Brasileira de Estudos de Patrimônio (Embraesp) revela que o preço do metro quadrado de imóveis de dois dormitórios subiu 42,86% no 1.º quadrimestre, na comparação com o mesmo período de 2009. No 1.º bimestre, havia subido 25%.
No caso dos imóveis de 2 e 3 dormitórios, o movimento foi semelhante. Em ambos os casos, houve aumento de 27% nos preços no primeiro quadrimestre na comparação anual, depois de o metro quadrado desse tipo de produto ter se valorizado 6% e 2,4%, respectivamente, no primeiro bimestre.
A alta dos preços do metro quadrado entre janeiro e abril superou de longe a valorização obtida em outros ativos. Segundo cálculos do administrador de investimentos Fabio Colombo, o capital investido no período em certificados de depósito interbancário (CDI) se valorizou 9,19% e na caderneta de poupança, 6,68%. Já os recursos aplicados em ouro tiveram desvalorização de 6,84% e, no dólar, houve uma retração de 23,83%.
Apenas as aplicações na bolsa, sustentadas pelo bom desempenho da economia, tiveram valorização superior à dos imóveis (74,17%). Os cálculos foram feitos a pedido do Estado, com base na cotação dos investimentos do último dia útil de fevereiro deste ano, comparada com a mesma data de 2009.
"Os preços dos imóveis em São Paulo estão chegando ao topo", afirma o diretor da Embraesp, Luiz Paulo Pompéia. Ele aponta alguns fatores que, na sua opinião, estariam sustentando a surpreendente valorização dos preços dos apartamentos e casas novas. O primeiro deles é a escassez de terrenos na cidade de São Paulo em razão de mudanças no Plano Diretor, que, pelas novas regras, reduziu pela metade a disponibilidade de áreas para erguer edifícios.
Além disso, como a maioria das construtoras abriu recentemente o capital e arrecadou grandes somas de dinheiro no mercado, a corrida dessas companhias para fazer um grande banco de terrenos inflacionou os preços.
O ambiente econômico, com crescimento da renda, do emprego e do crédito, especialmente o imobiliário, também contribuiu para a aceleração das vendas de imóveis novos. Nas contas do presidente do Sindicato da Indústria da Construção Civil do Estado de São Paulo (Sinduscon-SP), Sergio Watanabe, entre recursos do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) e da caderneta de poupança, serão injetados perto de R$ 70 bilhões de crédito para compra de imóveis neste ano, uma cifra recorde.
Investidores. Diante da grande valorização, Pompéia observa que está havendo um forte movimento de investidores no setor imobiliário residencial, o que de certo modo contribuiu para a manutenção de preços dos ativos em níveis levados. "São investidores nacionais e estrangeiros que compram imóveis na planta visando a uma valorização até o término da construção, isto é, em 18 meses em média."
Na Fernandez Mera Negócios Imobiliários, um terço das vendas de imóveis novos neste ano foram para investidores, conta o diretor Fabio Soltau. Ele observa que a mudança na Lei do Inquilinato, que prevê a retirada do inquilino inadimplente em 90 dias, recuperou o valor dos aluguéis e fez do imóvel um bom investimento.
Soltau diz que a sua empresa registrou crescimento superior a 50% nas vendas de imóveis de 1 e 2 dormitórios entre janeiro e maio deste ano em relação a igual período de 2009. Neste ano, a imobiliária vai ampliar em 70% o número de lançamentos ante 2009.
A construtora Gafisa ampliou em 495% o número de unidades lançadas em todo o País no primeiro trimestre. O diretor de incorporação da companhia. Sandro Gamba, conta que a empresa decidiu antecipar lançamento do 2.º para o 1.º semestre. "Em apenas um fim de semana, vendemos 100% de um empreendimento com 500 apartamentos, com valor médio de R$ 400 mil."
Já Fernando Sita, diretor da Coelho da Fonseca, diz que vendeu no fim de semana 30% de um empreendimento de alto luxo, cujo metro quadrado custa R$ 9 mil. "Depois da crise, os investidores começaram a encarar os imóveis como um porto seguro."
'Eu nunca vi nada igual'
Corretora de imóveis desde a década de 80, Léa Videira, de 61 anos, diz nunca ter visto movimentação igual no mercado imobiliário paulistano. Até ela se arrependeu de não ter investido num apartamento na capital no último ano. Em agosto de 2009, com uma equipe de corretores, chegou a vender 200 imóveis na planta num único fim de semana, antes até de o material de divulgação ficar pronto. Na época, custavam R$ 140 mil. Todos os apartamentos são de dois dormitórios, com garagem e equipamentos de lazer, no centro de São Paulo, perto da Praça da República.
Embora o lugar não seja tão atrativo, foi um sucesso de vendas. E está sendo também de valorização. Dez meses depois, Léa já tem clientes vendendo o imóvel por R$ 270 mil. "Isso porque o prédio ainda está na fundação, nem saiu do chão", conta. "Hoje vejo que faria um ótimo negócio se tivesse comprado algum imóvel ali. Tenho visto valorizações em torno de 70% nos últimos meses."
Cenário (artigo) - Por Márcia De Chiara
Valorização de preço é sinal de que há uma bolha?
A grande dúvida que existe hoje no mercado imobiliário é se a forte valorização dos preços é sinal de que esteja ocorrendo um bolha no setor. A maioria dos especialistas refuta essa hipótese, mas acredita que os preços devem continuar em trajetória ascendente no curto e médio prazos.
Para o presidente do Sinduscon-SP, Sergio Watanabe, os preços devem continuar subindo nos próximos dois ou três anos e depois a tendência é de estabilização, iniciando trajetória de queda. O motivo dessa crença é o fato de que a demanda está numa velocidade muito superior à oferta.
Sandro Gamba, diretor de Incorporação da Gafisa em São Paulo, faz coro com Watanabe. "A alta de preços dos imóveis não se trata de bolha." Para o especialista, o aumento dos preços é sustentável porque existe disponibilidade de crédito e os compradores têm poder aquisitivo para fazer frente às prestações.
"O mercado imobiliário deve continuar bombando enquanto houver oferta de crédito", acredita o diretor da Fernandez Mera Negócios Imobiliários, Fabio Soltau. Ele não aposta na tese da bolha porque a demanda reprimida pelo é bem superior à oferta. Além disso, Soltau ressalta que movimento semelhante, porém em menor proporção, ocorre no mercado de usados. Isso, para ele, reforça a tese de que a alta de preços é sustentável.
Márcia De Chiara é jornalista de O Estado de São Paulo
Esse prédio residencial lançado no ano passado é um empreendimento da construtora TPA. Está entre os quatro edifícios lançados recentemente no centro de São Paulo, depois de quatro décadas sem nenhuma novidade de imóveis residenciais na região.
A comerciante Maria José da Silva Pereira, de 38 anos, comprou duas unidades em um outro empreendimento também no centro da cidade. Um dos imóveis era para investimento, mas ela acabou precisando do dinheiro antes da entrega das chaves. Comprou por R$ 119 mil e vendeu por R$ 175 mil, em menos de um ano. "Compensa muito mais comprar um imóvel do que deixar na poupança", diz. "Só dá lucro e não tem erro." Neste mês, algumas unidades estão sendo vendidas por R$ 250 mil.
Clientes como Maria José, que compram imóveis como investimento, são cada vez mais frequentes no portfólio da corretora Léa Videira. "São médicos, comissários de bordo, gente de classe média que está comprando para vender", conta. "Eles só esperam o término da obra e passam o imóvel para frente."
Gerente de uma loja de roupas, Selma Regina Nascimento, de 42 anos, aproveitou a oportunidade para comprar um apartamento para ela e outro para os pais, com a intenção de morar mais perto do trabalho. Depois de muito procurar, encontrou as unidades que cabiam no seu bolso. Pagou R$ 146 mil por imóvel. Em dez meses, eles passaram a custar R$ 220 mil. As prestações estão hoje em R$ 1.018. "Não tenho dúvida de que, se eu tivesse esperado mais um pouco, meses mesmo, não teria conseguido comprar", afirma. "É um alívio ver os valores atuais e saber que fiz um ótimo negócio, no momento mais oportuno." Com um imóvel na Grande São Paulo, Selma pensa agora em fazer investimentos fora da cidade, onde ainda é possível encontrar preços mais baixos (colaborou Naiana Oscar).

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