sábado, 17 de julho de 2010

Preços de imóveis disparam em São Paulo.

Residências novas sobem até 40% em cinco anos; Jardins, Barra Funda e Butantã são os bairros com as maiores altas

Para especialistas da área, movimento não configura bolha porque está apoiado em aumento de renda da população e alta do crédito

DENYSE GODOY
MARIANA SALLOWICZ
DA REPORTAGEM LOCAL

Quem procura imóvel residencial para comprar na cidade de São Paulo está levando um susto. Em cinco anos, os preços de casas e apartamentos novos subiram, em média, entre 30% e 40% na capital paulista, ante os 22% de inflação registrados no período. No caso dos usados, a elevação dos valores beira os 30% em um intervalo de três anos, quando o IGP-M (Índice Geral de Preços do Mercado), calculado pela FGV (Fundação Getulio Vargas), ficou em 16%.
Em 2005, o metro quadrado de uma casa ou um apartamento de dois quartos recém-lançados no município valia cerca de R$ 1.894, de acordo com dados levantados exclusivamente para a Folha pela consultoria Embraesp. Esse montante passou a R$ 2.706 em 2009. Assim, um apartamento de 100 m2 em tal segmento na cidade passou de R$ 189,4 mil para R$ 270,6 mil no final desses cinco anos -uma alta de 43%.
Entre os bairros que tiveram as maiores valorizações na capital paulista, estão Jardins, Barra Funda e Butantã, aponta outro estudo elaborado pela Inteligência de Mercado Lopes e obtido pela Folha. Segundo a pesquisa, o preço do metro quadrado nos Jardins passou de R$ 7.360 para R$ 9.980, entre os triênios 2004/2006 e 2007/2009, uma alta de 36%. Na Barra Funda, o aumento foi de 25%, e no Butantã, de 23%.
Para Cyro Naufel Filho, diretor de atendimento da Lopes, um dos motivos para a aceleração foi o maior acesso da população ao crédito. "Com melhores condições de financiamento, queda de juros e mais bancos dispostos a emprestar -por causa de mudanças que trouxeram mais segurança jurídica a essas operações-, houve um aumento do número de pessoas com poder de compra e, conseqüentemente, impacto sobre os preços."
Foram decisivos, nesse processo, a queda do desemprego -de 18,7% da PEA (População Economicamente Ativa) para 13,8% entre 2004 e 2009 em São Paulo- e o aumento da renda, de cerca de 25% entre 2004 e 2009, pelas contas do Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos).
Ao mesmo tempo, com a maior procura pelos imóveis, as construtoras também aumentaram as buscas por terrenos na cidade. E, devido à legislação paulistana, em algumas áreas o potencial de aproveitamento do espaço livre é diminuído. "Por isso, crescem as ofertas de imóveis nas cidades vizinhas", diz Luiz Paulo Pompéia, diretor da Embraesp.

Bolha?
O movimento do mercado já fez com que tivesse início o debate sobre a existência de uma possível "bolha imobiliária" no Brasil, o que o ministro da Fazenda, Guido Mantega, descartou na última semana.
Vitoria Saddi, professora de economia do Insper, concorda com ele. "O que está ocorrendo com o setor imobiliário no Brasil é reflexo do aquecimento do mercado doméstico, conseqüência do aumento do crédito e do crescimento do país. Uma bolha se justificaria apenas se houvesse um aumento irracional do preço dos ativos."
Na sua opinião, outra evidência de que não há formação de uma bolha é a queda da inadimplência. O índice do consumidor recuou 6,7% no primeiro trimestre na comparação com o mesmo período no ano passado, segundo a Serasa Experian. A redução é a maior contabilizada nos três primeiros meses do ano desde o início da série histórica, em 2000.
"Nos Estados Unidos, antes de estourar a bolha imobiliária, aconteceu um aumento na inadimplência em 2006, sinalizando que os bancos deveriam parar de emprestar, o que foi ignorado pelas instituições", afirma a professora.

Expectativas
Segundo Naufel Filho, a tendência de alta poderá se intensificar nos próximos anos. "Os custos para as construtoras estão subindo, principalmente por causa dos terrenos, que estão cada vez mais escassos", afirma, para em seguida sugerir que quem está à procura de um imóvel acelere a busca.
Na opinião de Pompéia, entretanto, a escalada dos preços está chegando próximo ao seu limite, ao menos no que diz respeito aos imóveis de dois dormitórios. "Os apartamentos estão ficando caros demais. E a lei de mercado é essa: quando os consumidores sinalizarem que não dá para pagar, os valores estacionarão", afirma.

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