Folha de São Paulo, Caroline Matos, 03/ago
A perspectiva de crescimento da economia brasileira dá impulso à demanda por escritórios nas principais capitais do país. E joga para cima os preços de locação. Em polos onde terrenos com boa metragem e localização são cada vez mais raros -como as regiões nobres de São Paulo e do Rio de Janeiro-, os valores disparam. Quadro mostra algumas das áreas mais cobiçadas para a construção de empreendimentos comerciais no principal eixo paulistano de escritórios.
A Folha apurou que esses terrenos estão entre os últimos na região com tamanho para abrigar empreendimentos corporativos de altíssimo padrão ("triple A").
A maioria são áreas já adquiridas por construtoras e com projetos em andamento. Outras -como a do Playcenter- seguem na mira das empresas, mas ainda sem comprador definido. Recentemente, foi a Cyrela a apontada como a mais próxima de levar os 100 mil metros quadrados hoje alugados ao parque. Estimativas de imobiliárias apontam que a locação do metro quadrado nas imediações gira em torno de R$ 65 por mês.
VENDER OU ALUGAR?
"Com o aumento do aluguel, começa a valer a pena para o proprietário vender a área para a construção de algum empreendimento", diz Roberto Perroni, presidente da Cyrela Commercial Properties (CCP).
O executivo ressalta que não considera adquirir o terreno neste momento. Mas faz a ressalva: "Futuramente, quem sabe".
No mercado de construções comerciais, na maioria dos casos, as incorporadoras vendem os prédios depois de prontos. Mas também é possível que as próprias empresas responsáveis pelas obras aluguem os edifícios.
Em maio de 2010, a Brookfield vendeu sua participação (de cerca de 34 mil metros quadrados de área privativa) no empreendimento comercial da avenida Faria Lima com a rua Horácio Lafer para o Grupo Victor Malzoni por R$ 600,6 milhões.
"Muitos duvidavam que fosse possível negociar o metro quadrado acima dos R$ 17 mil e nós vendemos por R$ 17,6 mil", diz José de Albuquerque, diretor de incorporação da empresa.
SOBRE O CENTER 3
Também em maio deste ano, a W Torre adicionou ao portfólio o antigo prédio da Cesp (Companhia Energética de São Paulo), localizado sobre o Shopping Center 3, na avenida Paulista. Em leilão, a empresa arrematou o prédio, danificado por um incêndio nos anos 1980.
"A obra necessária levará oito meses no máximo", diz Bruno Queiroz, diretor de relações com investidores do Grupo W Torre. O executivo destaca que o tamanho do terreno (21 mil metros quadrados) faz dele uma raridade na região. "Proposta para vender a gente nem ouve. Interessados em alugar já temos cinco ou seis", completa.
ALTERNATIVAS
Considerando a grande ocupação das áreas mais nobres da capital paulista, a Herzog Imóveis Industriais e Comerciais destaca que, cada vez mais, as incorporadoras vão ter de procurar regiões alternativas para novos projetos.
"Acredito que a expansão empresarial siga em dois eixos: sentido zona sul da capital (Interlagos) e zona oeste (Vila Leopoldina)", afirma Simone Santos, diretora de serviços corporativos da imobiliária.
Aluguel no centro é 20% do da zona sul
Aluguéis mais baratos são um atrativo de áreas consideradas menos nobres em São Paulo. Endereços que podem ser alternativas para empresas que não precisam estar em edifícios "triple A". Segundo pesquisa da Herzog Imóveis Industriais e Comerciais, o preço médio pedido pelo metro quadrado comercial no centro da cidade fica em R$ 25.
O valor é menos de um quinto do cobrado na Faria Lima (R$ 130). Ou menos de um quarto do praticado na avenida Paulista (R$ 110).
"Mas é preciso considerar que a qualidade dos imóveis comerciais na região central não se compara à observada nessas outras áreas", pondera Simone Santos, diretora de serviços corporativos da imobiliária.
REVITALIZAÇÃO
Gastão Valente, diretor da Brazilian Capital, destaca que o centro tem uma infraestrutura de transporte já montada, com metrô e ônibus, o que facilita o deslocamento de funcionários.
Mas o executivo ressalta que a tão esperada revitalização precisa ser efetiva para que empresas maiores busquem a região.
"Tem de haver uma atuação mais intensa dos órgãos públicos", avalia.
ZONA LESTE
Outros bairros -como Aricanduva, Itaquera e Penha, na zona leste da cidade- são bons locais para instalação de pequenos centros comerciais, na avaliação da incorporadora GR Properties.
A empresa, que começou a concentrar esforços em empreendimentos desse tipo neste ano, deve iniciar uma obra na Penha em julho do ano que vem.
Nos próximos três anos, a GR Properties planeja investir cerca de R$ 180 milhões em edifícios comerciais de bairro, com salas de 30 metros quadrados a 40 metros quadrados.
"Acreditamos que, cada vez mais, as pessoas vão querer trabalhar e consumir nos bairros onde moram", diz Guilherme Rossi, diretor-geral da companhia. (CM)