Folha de São Paulo, Janela, 27/fev
Ao reafirmar sua prioridade de erradicar a pobreza, a presidente Dilma Rousseff fez uma declaração relevante na última segunda-feira, no encontro de governadores do Nordeste: "Nossos cortes orçamentários, os R$ 50 bilhões, eles preservaram o investimento. Nós estamos, sim, fazendo uma consolidação fiscal. (...). Para que não haja de fato, no Brasil, pressões inflacionárias, que nós não deixaremos que aconteça, é importante que a oferta de bens e serviços, sobretudo a taxa de investimento, cresça acima da demanda por bens e serviços. A taxa de investimento integra a demanda, mas ela garante a ampliação da oferta. Daí porque nós mantemos integralmente os investimentos com o PAC 2, especialmente na parte social e urbana, Minha Casa Minha Vida, Copa."
É isso. O que o Brasil sempre necessita, e mais especialmente neste momento em que o mercado eleva suas previsões sobre a inflação, é de um choque de oferta de habitação e infraestrutura, produtos e serviços.
Direcionar recursos para elevar a oferta é estratégia certeira para reverter expectativas inflacionárias, dispensando o remédio amargo da elevação dos juros, que retarda o crescimento econômico e inibe a geração de emprego e renda.
No caso do setor da construção, um choque de oferta significa manter o crédito para toda a cadeia produtiva; estimular ainda mais a ampliação da capacidade de produção da indústria de insumos; articular uma política de atração de parceiros do exterior para instalarem suas fábricas de materiais de construção no Brasil -o momento é extremamente favorável para isso; manter irrigado o crédito para a produção habitacional e a aquisição de imóveis; e desenvolver novas fontes de financiamento para estes fins.
Significa ainda acelerar as ações da União, dos Estados e dos Municípios para elevar a oferta de profissionais qualificados. E, ao mesmo tempo, desonerar investimentos para possibilitar a adoção de inovações tecnológicas que elevem a produção e a produtividade.
Na habitação, choque de oferta implica a articulação urgente de políticas públicas que elevem o estoque de terrenos disponíveis nas áreas urbanas, de modo a viabilizar empreendimentos imobiliários acessíveis a famílias de todas as faixas de renda.
Para o segmento de mais baixa renda do programa Minha Casa, Minha Vida, um choque de oferta pode acontecer se o governo elevar o valor máximo das unidades habitacionais que ele contrata, hoje ainda limitado a R$ 52 mil.
Com esse valor, mesmo sobre um terreno doado já não é viável construir moradias populares na cidade de São Paulo. Vale lembrar: na capital paulista residem 800 mil dos 5,8 milhões de famílias que estão no déficit habitacional em todo o país. Dar-lhes moradia digna é parte indispensável da meta do governo e de toda a sociedade para a erradicação da miséria.
terça-feira, 1 de março de 2011
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