terça-feira, 5 de outubro de 2010

Classe D já sonha com a casa própria

Aumento da renda ampliou consumo desse grupo, que hoje chega a R$ 381,2 bilhões; 72% querem crédito para a compra do imóvel

Yolanda Fordelone, do Economia & Negócios


SÃO PAULO - Com um poder de consumo de R$ 381,2 bilhões somente em 2010, o grande desejo da classe D é a casa própria. Segundo pesquisa da consultoria Quórum Brasil, obtida com exclusividade pelo ‘Estado’, 72% das famílias com renda de R$ 800 a R$ 1.020 por mês ambicionam comprar um imóvel.


O aumento da renda ampliou o consumo desse grupo da população e também chamou a atenção de algumas empresas e bancos. Para especialistas, porém, o acesso ao crédito de maiores valores, como o imobiliário, ainda é limitado.

"Essas pessoas que hoje estão na base da pirâmide são tomadoras de crédito para a compra do computador, moto, carro ou para financiar viagens. Mas são créditos de valores menores", explica o diretor de crédito imobiliário do Bradesco, Cláudio Borges. "Agora é que eles começam a ter alguma participação em termos de financiamento imobiliário."



A demanda reprimida é grande. Borges acredita que pelo menos 80% dos quase 6 milhões de lares de déficit habitacional sejam da baixa renda. Mas o dinheiro curto torna o sonho de muitos distante. Estima-se que um imóvel para esse público custe, no máximo, R$ 50 mil.

No Bradesco, a parcela mínima do financiamento é de R$ 200, o que, segundo cálculo de Borges, permite que o cliente financie uma casa de R$ 45 mil em 30 anos. Já numa simulação do Itaú Unibanco, famílias com ganhos de R$ 1.020 por mês não conseguem obter o crédito, por causa do comprometimento muito grande da renda.

"A própria ascensão da classe C influi nessa ambição. Quem tem menor renda vê na televisão os feirões, as ofertas de imóveis, e passa a querer isso também", diz o diretor da Quórum Brasil, Cláudio Silveira. "Mas, além de o salário da classe D não ser suficiente, não há linhas de financiamento de valores tão baixos."

Um terceiro problema seria a regulamentação dos imóveis. Localizados geralmente na periferia, grande parte das residências de preço baixo não possuem todos os documentos necessários para o financiamento.

No Bradesco, apenas 3% dos R$ 5 bilhões financiados até junho foram destinados à classe D. A classificação do grupo, no entanto, não possui um critério fechado e nos bancos em geral se estende a famílias que ganham até três salários mínimos. "Já pega parte das pessoas na transição para a classe C", garante Silveira.

O que parte do mercado acredita ter garantido maior acesso da classe D é o programa do governo federal Minha Casa, Minha Vida, que atende à faixa de renda de até R$ 1.395. Segundo a Caixa Econômica Federal, principal banco envolvido no projeto, os recursos do Fundo de Arrendamento Residencial vão produzir 400 mil unidades.

Segundo a Caixa, outras 67 mil famílias já foram atendidas por financiamentos com recursos do FGTS, subsidiados pelo programa, e dessas 21 mil têm renda inferior a R$ 1.100. Em 2008, quando ainda não havia o programa, 47% das residências financiadas eram para famílias de até três salários mínimos, número que aumentou para 60% em 2010, após o programa ter entrado em vigor.

Outros desejos

Os próximos itens do ranking dos desejos são a aquisição do automóvel e progredir na vida ou estudar, objetivos que já são mais facilmente alcançáveis. Além de estudar, o grupo passa a se preocupar mais em guardar dinheiro (18% dos pesquisados), mas apenas 46% realiza tal objetivo.

Pelo fato de boa parte da classe D morar em locais considerados violentos e também pela renda ser insuficiente para passeios mais distantes, muitos optam por ampliar as possibilidades de lazer dentro de casa, com a compra de aparelhos de DVD, videogames e computadores.

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