Com espaços para verticalização, bairro junto ao centro urbano não desperta o interesse do mercado por conta do seu perfil, aponta pesquisa.
07/10/10, São Paulo, SP - “O mercado imobiliário é preconceituoso”, concluiu a arquiteta Penha Elizabeth Arantes Ceribelli Pacca, autora de pesquisa realizada para compor tese curricular da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (Fau) da Universidade de São Paulo (Usp), abordando o Pari e suas características.
Uma das conclusões do trabalho dá conta que aquele bairro paulistano poderia configurar uma “extensão” do centro urbano, com o qual guarda estreita proximidade. Ali há espaços para a verticalização, contudo, apesar das dificuldades em conseguir, na capital, áreas para novos empreendimentos, o mercado imobiliário passa ao largo do Pari.
De acordo com os resultados da pesquisa da arquiteta, a estagnação urbana do bairro é devido “às atividades comerciais ali concentradas, bem como a forte presença de classes sociais de baixa renda”. O estudo apontada a presença, ali, “de grande número de cortiços e imóveis desocupados ou abandonados, cenário que é um entrave ao investimento do capital imobiliário”.
“Os principais usos do solo e atividades do Pari não valorizam o bairro. Botecos de esquina, oficinas mecânicas, postos de gasolina e estacionamentos não dão vida ao lugar, e esses tipos de usos estigmatizam, pois ninguém quer morar ao lado. Assim, o mercado imobiliário fica sem interesse pela região”, diz Ceribelli.
A arquiteta diz que o bairro tem pouquíssimos edifícios, sendo propenso ao processo de verticalização, contudo, “o mercado não vai querer comprar uma área grande ao lado de um local onde entra e sai caminhão o dia inteiro”.
“O bairro é bem localizado. Ocupa uma região central e é dotado de infraestrutura - como o Metrô. Para o mercado imobiliário, porém, não é interessante, no momento, uma valorização do local. Mais tarde, quando achar que deve investir, poderá lucrar mais”, assinala a arquiteta.
Entre os bairros que fazem parte da região central da cidade de São Paulo, o Pari é o que vem apresentando, desde 1960, a maior taxa de redução da população. Este fator, na análise de Ceribelli, é outro motivo que acarreta desinteresse por parte dos investidores.
“O número de habitantes, de quase 33 mil na década de 1960, não chegou a 15 mil no último censo, realizado em 2000. A queda da taxa populacional tem como causas: a saída dos mais jovens para morar em outras regiões; diminuição da taxa de fecundidade; e a redução no ritmo do processo migratório”, segundo a pesquisadora.
Latifúndios - A pesquisa feita por Penha Ceribelli compõe a tese: A estagnação urbana como parte da metrópole paulistana do século XXI – o caso do Pari, orientada pelo professor Flávio José Magalhães Villaça, do Departamento de Planejamento da Fau/Usp. Uma das conclusões do estudo destaca indícios da existência de uma grande concentração de propriedades nas mãos de poucos donos.
“Houve, em determinado momento (meados do século 19), uma apropriação de terras. A própria estrutura de São Paulo vem de uma apropriação”, comenta a arquiteta, e acrescenta: “11% dos proprietários detêm quase 50% dos imóveis existentes”.
Na média para a cidade de São Paulo, 79% dos imóveis são habitados pelos seus proprietários, e 21% são locados. No Pari, a locação chega a 49% do total de moradias, de acordo com a pesquisa.
“A concentração de propriedades nas mãos de poucos donos também contribui para a estagnação do bairro e a deterioração dos imóveis. (Em um dos casos), 236 pessoas são donas de 1.104 imóveis. Se não vendem ou não alugam pelo preço desejado, deixam o imóvel desocupado, e muitos acabam abandonados, desvalorizando ainda mais a região”, finaliza a arquiteta Penha Elizabeth Arantes Ceribelli Pacca, da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Ao fazer comentário clique na opção conta do google ou anônimo para realizar o comentário