Com foco em unidades de até R$ 100 mil, instituição quer expandir atuação; bancos privados ensaiam entrada no segmento popular
Marina Gazzoni e Olívia Alonso, iG São Paulo | 31/08/2010 05:38
A Caixa Econômica Federal está se ajustando para não perder espaço para novos participantes no crédito imobiliário. Para manter seus 75% de participação em um mercado que vem sendo disputado por bancos privados e financeiras, a instituição afirma estar realizando investimentos para agilizar seus processos, inclusive para atender clientes que querem financiamento para a aquisição de imóveis de alto padrão.
Atualmente, os imóveis de até R$ 100 mil correspondem a 81% da carteira da instituição, e a média do valor dos financiamentos é R$ 79 mil. “Estamos revendo processos também para atender melhor o público de renda mais alta”, afirma Teotônio Rezende, consultor da vice-presidência de governo da Caixa. Entre as estratégias estão aportes para melhorar procedimentos internos e a atuação por meio de correspondentes bancários.
A expectativa do presidente do Sindicato da Habitação (Secovi-SP), João Crestana, é que a Caixa se reestruture para se consolidar como um banco líder em todos os segmentos de crédito imobiliário e não como um banco social. “Eu tenho ouvido de executivos do banco que eles se sentem habilitados para atender todas as faixas de renda. Não acredito que eles vão deixar o segmento de médio e alto padrão de graça para os bancos privados”, afirma.
Na última semana, a Caixa deu um forte sinal de que segue focada em manter a liderança no mercado de crédito imobiliário. O banco informou que fará um aumento do capital de R$ 2,5 bilhões, valor que permitirá dobrar sua carteira de crédito total para R$ 300 bilhões nos próximos anos. Quando considerado apenas o segmento imobiliário, a meta do banco é atingir um volume próximo a R$ 60 bilhões no final do ano, segundo Rezende, um crescimento de 28% sobre a carteira de R$ 47 bilhões do ano passado.
Apesar de os bancos privados afirmarem que não almejam competir com a Caixa nos empréstimos para a população de baixa renda, a tendência é que eles aumentem a concorrência neste mercado nos próximos anos, afirma o diretor da Empresa Brasileira de Estudos do Patrimônio (Embraesp), Luiz Paulo Pompeia.
O motivo é que o risco desse segmento ficou menor tanto pela expansão da renda no País quanto pelas mudanças na legislação do setor, que passaram a favorecer agentes financeiros. “O receio de emprestar para a baixa renda é o medo da inadimplência. Mas, hoje, após três meses de atraso na prestação, os bancos podem retomar o imóvel”, afirma.
Para conseguir financiar a compra da casa própria por famílias de baixa renda, os bancos privados terão que mudar seu sistema de avaliação da renda, afirma Cristiano Chiab, diretor de crédito imobiliário da construtora MRV, focada em imóveis econômicos. “Eles precisam desenvolver métodos que considerem rendas informais”, diz.
A impossibilidade de utilizar os benefícios do programa do governo federal Minha Casa, Minha Vida, que subsidia a compra do primeiro imóvel para famílias com renda de até dez salários mínimos, não deve prejudicar os bancos privados neste mercado, de acordo com o executivo da MRV. “Se eles conseguirem liberar recursos do FGTS para o cliente, as condições são muito próximas às oferecidas pelo programa”, afirma.