- O Estado de S.Paulo
A população da Barra Funda, na zona oeste da capital, deve passar de 15 mil habitantes para 45 mil em apenas cinco anos. Empreendimentos imobiliários planejados para ocupar alguns dos maiores espaço vazios da cidade serão erguidos antes de a região receber as melhorias de infraestrutura e de serviços públicos necessárias para atender os novos moradores e evitar impactos negativos nas redondezas. Nos últimos 13 anos, pelo menos 12 projetos de melhorias urbanísticas para a Barra Funda foram desenvolvidos pela Prefeitura, mas nenhum foi executado, apesar de haver recursos em caixa para isso, originários da Operação Urbana Água Branca. A operação foi criada às margens da linha ferroviária para ocupar vazios existentes no eixo Pompeia-Perdizes-Barra Funda.
Enquanto o mercado imobiliário demonstra agilidade, com a sucessão de empreendimentos em execução e outros projetados para o bairro, a Prefeitura se atrapalha na tarefa, que parece interminável, de criar o melhor plano de ocupação e de executar as obras de sua responsabilidade, conforme as regras da operação urbana. Do planejamento urbano, as únicas coisas que andam na velocidade correta na administração - pelo menos do ponto de vista dos empreendedores - são a aprovação de novos projetos e a cobrança da outorga onerosa pelo direito de construir além do estipulado pelas regras de zoneamento. Os recursos daí provenientes deveriam financiar melhorias na infraestrutura do bairro.
A Prefeitura está pelo menos 20 anos atrasada. A tendência de verticalização da região, com imóveis residenciais de grande potencial de valorização, já era apontada desde o início da década de 90, quando a boa infraestrutura da área se destacava graças à baixa ocupação. Só em 2004, um concurso foi realizado para eleger o melhor projeto para a Barra Funda e região vizinha. O escolhido incluía prédios de seis andares, calçadas largas e muito verde. Batizado de Bairro Novo, ele foi logo esquecido.
Enquanto isso, megaprojetos surgiram e agravaram problemas crônicos do bairro, como as enchentes. A impermeabilização do terreno, com a construção de condomínios, prédios comerciais e novas avenidas, ocorreu em grande velocidade nos últimos anos e o resultado são as inundações que atingem o bairro cada vez com maior intensidade. Desde 1995, 21 empreendimentos comerciais e residenciais se instalaram no bairro, entre eles o Shopping Bourbon, o hipermercado Sondas e pelo menos 17 torres residenciais.
Sem que a Prefeitura disciplinasse o processo de ocupação do bairro, construções foram aprovadas displicentemente e abusos foram cometidos, como o de uma universidade que ocupa área 13 vezes maior do que a permitida e provoca caos diários nas vizinhanças do Memorial da América Latina.
A Operação Urbana Água Branca deverá acrescentar pelo menos 60 mil novos moradores à Barra Funda, onde os galpões industriais representam 37% da área a ser desapropriada e as residências, 33%. Um dos últimos projetos anunciados pela Prefeitura previa a desapropriação de cerca de 350 mil metros quadrados de terrenos para obras viárias - a frota do bairro deverá passar de 8 mil veículos para 27,4 mil em 2025 -, alargamento de calçadas, construção de piscinões, etc.
Apesar dos projetos já executados, a Prefeitura ainda tem R$ 80 milhões em caixa. É pouco. Só a estimativa de custo das obras viárias chega a R$ 400 milhões. Isso talvez explique por que a Prefeitura está sempre revendo seus projetos.
O governo não reconhece a sua inércia nem que existe uma discrepância entre a arrecadação com a operação urbana e os custos dos projetos. Afirma que o recapeamento e a revitalização paisagística estão em andamento, assim como obras destinadas a melhorar o fluxo de trânsito nas redondezas do Terminal Barra Funda. Não é muito para uma região que verá sua população quadruplicar. Está sendo perdida a oportunidade de aplicar um bom modelo de ocupação em uma das poucas regiões da cidade que ainda têm grandes espaços vazios.
sexta-feira, 17 de setembro de 2010
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